Rainer Maria Rilke
Foto Rogério Reis
Os anjos da cidade vêm da esquina
de praças e barrancos
surgem do chão de surpresa
já sem asas
estão nos botequins
dormem nos bancos de praça
nas calçadas.
Sofrem de fome em bandos
sem ter aonde levar
seu cheiro
sua revolta.
Os anjos da cidade nos sitiam
deuses sem brilho
feitos de folhas secas e unhas.
São flébeis e nos avisam
com os olhos fugidios
:
o inimigo vem de qualquer lado.
Às vezes velam os que
por suas mãos
restaram mortos
e riem
diante desses anjos desfolhados.
Um anjo desossado ingressa às vezes
no sangue de quem passa
e deita em suas horas e adormece
de um sono escuro
opaco de lembranças.
Os párias da cidade todo dia
geram outros anjos feitos
de fumo e cocaína
cola e craque.