nas folhas da amendoeira
canta
na franja dos telhados
a madrugada líquida que chega.
É tanto o que independe
de nós
aos olhos mais atentos
– as luzes que vacilam
e nada saberemos dos bichos escondidos
no escuro mais escuro –
nada
de tudo que subsiste
sem que os sentidos registrem.
De todos os sinais
sobram frações
segundos, séculos
girando em outra esfera.
Se a pele é fiel ao tempo
o vento embala
ou destrói
e a chuva é mais que suas nuvens.
Olhando pela vidraça a sedução do tempo
quem sabe o mundo que iremos encontrar
depois do sono.
Ainda assim o momento é mais forte
e o esquecimento nos salva.