sexta-feira, agosto 28, 2009
Correio
Vem do trabalho às sete
na caixa do correio
as mãos cheirando a rosas
e o pensamento molhado de mensagens
recolhe contas
comunicados bancários e alguns volantes
publicitários.
segunda-feira, agosto 24, 2009
Ponta do dia
Debaixo dos olhos dela
os traços se multiplicam no sorriso.
Essa lembrança
Essa lembrança
ele não deixará perdida
imagina
nem no túmulo
se o dia parar
extremo
e interromper a conversa
junto à janela
junto à janela
na hora do café.
Durante as tardes
a coberta jogada sobre o sol
nunca suspeita do escuro
nem de abismos.
É sempre que o sol declina
nunca suspeita do escuro
nem de abismos.
É sempre que o sol declina
esse momento extremo
de ravina
às vezes rosas e copas verdes
às vezes rosas e copas verdes
clareiras
e os pastos ondulando sob o vento.
e os pastos ondulando sob o vento.
terça-feira, agosto 18, 2009
Em casa
Para Susana Miguel
No interior da casa
o que está dentro de tudo ressuscita
o que está dentro de tudo ressuscita
e inicia um canto novo a cada instante.
Não é verdade
Não é verdade
que as coisas acontecem sempre iguais
porque as palavras mudam
porque as palavras mudam
e muda a cor das folhas
muda o pássaro
de cada dia pousado no beiral.
Dentro da casa há mergulhos na noite
de cada dia pousado no beiral.
Dentro da casa há mergulhos na noite
estradas imaginárias e o vazio
que às vezes se percorre
que às vezes se percorre
como quem volta do exílio
e já não sabe onde deixou o livro interrompido
nem mais se lembra do instante
decisivo
dos pontos religados pelos olhos
aquele que decide
aquele que decide
o que não pode se chamar destino.
Dentro das mãos
Dentro das mãos
o tempo rasga o interior das coisas.
sábado, agosto 15, 2009
Domésticas
I
A roupa no varal entrega ao vento
a desbragada candura dos botões
e há uma canção de luz em andamento.
II
Além da mesa do almoço
o gato apaziguado nos espia.
Na tarde mansamente inaugurada
reaparecem as flores do futuro
: dentro de nós o vento se anuncia.
III
O vento na janela subverte
o quarto de dormir nesse
bailado insurreto de cortinas.
Nos muros do jardim as vozes breves
em contraponto de intenções minúsculas
pensa por nós o vento e imprecatada
a lava fria da lua nos contempla.
Varrido o chão da noite
o tempo recrudesce em nossa cama.
IV
O pássaro no mundo de suas grades
é ele mesmo quadrado diminuto
afeito ao voo curto
e rumo ao céu
desfere a fantasia de seu canto.
quinta-feira, agosto 13, 2009
Galeria
Até onde se estende um corpo quando sonha
ninguém pode prever.
ninguém pode prever.
O pincel
escorre sem rumo certo pela tela
escorre sem rumo certo pela tela
terras imaginárias sem fronteiras.
A cor brota primeiro
lugar ignorado
e logo sobem formas rasas
entrecruzando brumas e
respingos
pontos pollockianos
tensão de fios.
Ausências
varam no escuro a moldura.
Na galeria
no outro dia
críticos esquadrinhadores
visitarão as dores
A cor brota primeiro
lugar ignorado
e logo sobem formas rasas
entrecruzando brumas e
respingos
pontos pollockianos
tensão de fios.
Ausências
varam no escuro a moldura.
Na galeria
no outro dia
críticos esquadrinhadores
visitarão as dores
o devaneio do olhar
e as soluções
e as soluções
recriadas do inventário.
No chão do ateliê
pelas bancadas
restos de estopa e pincéis
reiteram pacientes
No chão do ateliê
pelas bancadas
restos de estopa e pincéis
reiteram pacientes
outra realidade
a que faltam o nome
e a moldura.
a que faltam o nome
e a moldura.
segunda-feira, agosto 10, 2009
Lição
O que um dia se aprende
vem do que não se sabia
como quem sai de um ponto de partida
como quem sobe um degrau de cada vez.
E quanto mais se sabe
mais sobra o que aprender
quanto mais sobe
mais chão vê lá de cima.
Quem nada sabe
por não saber ensina
o que lhe falta
e mais aprende
quem muito já sabia.
vem do que não se sabia
como quem sai de um ponto de partida
como quem sobe um degrau de cada vez.
E quanto mais se sabe
mais sobra o que aprender
quanto mais sobe
mais chão vê lá de cima.
Quem nada sabe
por não saber ensina
o que lhe falta
e mais aprende
quem muito já sabia.
terça-feira, agosto 04, 2009
Madrugada
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