Para Susana Miguel
No interior da casa
o que está dentro de tudo ressuscita
e inicia um canto novo a cada instante.
Não é verdade
que as coisas acontecem sempre iguais
porque as palavras mudam
e muda a cor das folhas
muda o pássaro
de cada dia pousado no beiral.
Dentro da casa há mergulhos na noite
estradas imaginárias e o vazio
que às vezes se percorre
como quem volta do exílio
e já não sabe onde deixou o livro interrompido
nem mais se lembra do instante
decisivo
dos pontos religados pelos olhos
aquele que decide
o que não pode se chamar destino.
Dentro das mãos
o tempo rasga o interior das coisas.