I
A roupa no varal entrega ao vento
a desbragada candura dos botões
e há uma canção de luz em andamento.
II
Além da mesa do almoço
o gato apaziguado nos espia.
Na tarde mansamente inaugurada
reaparecem as flores do futuro
: dentro de nós o vento se anuncia.
III
O vento na janela subverte
o quarto de dormir nesse
bailado insurreto de cortinas.
Nos muros do jardim as vozes breves
em contraponto de intenções minúsculas
pensa por nós o vento e imprecatada
a lava fria da lua nos contempla.
Varrido o chão da noite
o tempo recrudesce em nossa cama.
IV
O pássaro no mundo de suas grades
é ele mesmo quadrado diminuto
afeito ao voo curto
e rumo ao céu
desfere a fantasia de seu canto.
3 comentários:
Gosto das suas dom+esticas, amiga!
Neste post se desfere uma visão atmosférica e contemplativa de cor e tempo a passar ao lado deste tempo, rumo ao leitor. Em todo o o blog a poesia voa e ondula, envolvendo as imagens...
Um abraço e até breve.
P.S. - Li duas vezes o poema "galeria" de que gostei especialmente.
Querida Adelaide! Como disseste que eu poderia, publiquei este teu lindo poema lá em meu blog. Agradeço e fico feliz em partilhar tuas palavras aladas com outros amigos amantes de poesia. Beijinhos azuis!
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