segunda-feira, janeiro 28, 2008

Impiedade

O silêncio do espelho
é o que resta
– a natureza morta
as folhas quietas.

Não haverá resposta
e sem palavras
procura o espaço exato
de uma prece.

Nada resiste ao horizonte.

Somente a inquietação
espera alguma voz
menos árdua que o vento.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Lua e tempo



Pela cidade
trechos de ruas quietas denunciam
passos do tempo.

Sobre os telhados
impregnada de velhice
a lua contemporiza .

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Nômade

Perdeu-se em horizontes
no mar
pelas salinas
e nas pegadas desfeitas pelo vento.
Dessas areias quentes
de sua vida nômade
só restarão as pegadas
e os poentes.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Um outro adeus

(Para minha tia agonizante)

Vou aos pedaços

no limiar dessa fuga
da partida
para onde continuamos sem pensar.

Aprendo agora o que teus olhos dizem

a contemplar o que não posso ver.
Teus olhos se perderam noutro tempo.

Mãe
ou o que me resta de ti
a morte te transcende e me transcende
mas não te apaga
não apaga em mim os teus vestígios.
A morte é o fim de todos os presságios
uma armadilha
a morte é uma aranha em sua teia.

Mãe
a morte vigilante aos poucos enredou
a tua irmã que mais amou a vida.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Decantação

Porque calei o amor e a incerteza
toda a verdade do que mais importa
e construí castelos de defesa
só restará de mim a língua morta
com que semeio a terra adjacente
e que relata imagens refletidas
do medo e da saudade do presente
e do futuro adiado pela vida.
Porque fiquei e o tempo nunca pára
e quanto mais me omito mais me eximo
partiu-se o fio que me desenhara.
Tornei-me pedra cal areia e limo
já não sou mais que o espaço que me ampara
e decantada no tempo me suprimo.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

...

Estrelas vindas do acaso
entraram pela janela
rolaram sobre o tapete
e se apagaram
cantando
nos quatro cantos da sala.

Espero por um ocaso que as resgate
sem perceber a troca de uma letra
e hoje não passo o aspirador
na sala.