sexta-feira, setembro 30, 2011

Trama


Uma história foi tramada
em cores e desalinhos
canções cruzadas
e passos
companheiros.

O amor cortado aos pedaços
é amor para sempre inteiro.

quarta-feira, setembro 28, 2011

Tardes de outono





1

Nas imagens da janela
ventos novos
e os ecos inseguros de outras vozes
timbres e entonações passando ao largo
presenças apressadas
se distanciam
cenários desenhados
constelação de outras vidas
nos condomínios do outono.

2

Lá fora grassa um sol enganador
como se o mundo fosse uma quimera
é outono
e o sol mascara as sombras
como se entrasse hoje a primavera.

3

Fecho as cortinas
isolo o mundo
em sua esfera invisível
mais fria a cada instante.
A experiência de ser é quase trégua
entre os ruídos amigos do relógio antigo
e o despertar discreto de meu gato.

Mas o silêncio grita na memória
e como disse o poeta
não adianta fugir
que viver não tem cura.

segunda-feira, setembro 26, 2011

Continente

O que não me pertence
segue um caminho
sem volta.

sexta-feira, setembro 23, 2011

Sideral


Costurado entre as vozes
o silêncio
passa despercebido.
E no entanto
sem ele
palavras seriam vãs.

Silêncio é o espaço
entremeado às palavras
como o espaço sideral
a sustentar estrelas.

quarta-feira, setembro 21, 2011

Súbito




A qualquer momento
a flor dos sentidos
se faz breve.
Quando menos se espera
mergulha-se num mar
insuspeitado.
De repente
entra em eclipse
tudo que se pensava
de viver.


segunda-feira, setembro 19, 2011

Diante do mar



 Imagem da Internet sem menção de autor.


Entre as árvores da costa
se ouve a voz que vem do mar
ele sussurra
segreda
alguma coisa sem nome
– talvez revele
ao coração da terra
a dor secreta
que não cabe
nem se consola
nas grandes ondas
e resiste
a todas as investidas.

O coração das marés
entregue ao tempo
arremata
embala e adormece
as cinco luas de nossos sentidos.

sexta-feira, setembro 16, 2011

Paisagem



Busco alguma vida
um reinício
mesmo desgastado
para repor as aves que fugiram
durante as décadas do engano.
 As chuvas de hoje
fecundaram as margens da barragem.
As águas podem remover cidades
e nada é para sempre
nem mesmo essa paisagem
nem a verdade que um dia
foi só nossa.

quarta-feira, setembro 14, 2011

Exílios


Segue no exílio do tempo
a ventania
sons de oboé
canto sem luzes
que não nos deixa ver
o fim do filme.
E enquanto o vento insinua
esse final
que não conhecerei
desaparece da vista
alguém
no silêncio imensurável
da distância.

segunda-feira, setembro 12, 2011

Barco sem nome




A saudade de que falo
foi como um barco sem nome
sem destino declarado.
Não demorou no cais
o tempo que os barcos levam.
Saiu logo
queria singrar todos os mares
todos aqueles
que lhe parecessem
muito azuis.

sexta-feira, setembro 09, 2011

O dia


Versões de antigas manias
variam conforme o tempo
nas mudanças de estação.
Ilusões novas vêm na primavera
em pencas de perfume imaginário
festa de aniversários coloridos.
Termos escuros escolhem o tempo frio
seus fantasmas
depois de o outono
ter esgarçado os tecidos em mil ventos
restos de lua entre as nuvens picotadas
e uma ilusão mais densa faz ouvir
o eco sufocado de tambores
que vêm de algum lugar
mas não sei qual.
Uma excursão a terras escaldantes
emana desses rios quase secos
dissolve as cores
e tudo que aprendi das flores
o coração desfeito pelas praias.
Sereias
como se o mar antigo
ainda ofegante
voltasse despejando sobre a areia
a sensação escaldante
de que o perfil mais desejado não vem nunca
retido pela distância de outros mares.
Verão é a estação do que se nega
a que acelera a perda
e desengana todas as esperas.


Entre estações
não resta qualquer sinal da glória antiga.
Uma versão de branco
veste calada seu caminho neutro
desdobrado
de rumo em rumo
à espera do que pode ser o dia
de usar perfume de rosa
e lancinante
despenhar pelo abismo de outra noite.


quarta-feira, setembro 07, 2011

Ele



Segue secreto entre os antigos gestos
cabelos embaraçados em distâncias
e atravessa a noite
emoldurado
por uma harpa de sombras descendentes.

Agora é como um ímã
desmagnetizado em desenganos.

  

segunda-feira, setembro 05, 2011

Cortinas


Estou pensando num quadro
que traga texturas novas
cortinas esvoaçando
nuvens
filó-colméia
voile
e luzes tecidas
além da moldura
desbordando
sem nunca pensar no fim
redes de subir ao céu
e voltar
bobas de estrelas.


Poema reeditado.

sexta-feira, setembro 02, 2011

Silêncio





Quando o silêncio
calado a medo
inventa a guerra
e rasga o tempo
morte nas dobras
é silêncio falso
cheio de espinhos
escondidos.

Silêncio verdadeiro
é transparente
cristal
capaz de flexão
manso nas palavras.
Silêncio verdadeiro
é papel de presente
envolve a paz.