segunda-feira, dezembro 15, 2008

Manhãs

Manhãs em que as coisas se iluminam de transitoriedade
são convenções dos deuses que moram em todos nós
a desvendar a finitude o inevitável das dores e a fragilidade do amor
sua estrutura tecida de plumas arrancadas de aves-do-paraíso ainda vivas.

Manhãs de chuva entendem de desejos
e acolhem sem fazer drama os sacrilégios
porque entardecem mais cedo.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Os músicos



Desde que o mundo
tempera nossa fome
a música nos leva pela mão.

Sonhos de montanha-russa.

A cada dia um mundo diferente
jantares na torre Eiffel
almoço musicado em Las Cañitas.

Voo noturno para Barcelona.

Dispersos pelo mundo
a refeição servida
e a música na sala.

Caleidoscópio em marcha.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Sem razão


Foto Agatha de Valmont. Ottawa bike.

A alma é música que às vezes entorta e deixa cair o ritmo janela abaixo
é lago no escuro trêmulo do quarto à procura de luzes
e luz sempre em busca.

Alma é deserto pleno e fala de oásis que não viu.

Alma é brinquedo quebrado e ainda assim
amado pela criança que imagina seu brinquedo todo inteiro
por um milagre em que só mesmo as crianças acreditam.

Milagre é brincar de ser grande sendo grande
e misturar a música da alma na longa espera das pessoas grandes.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Paisagem




Muro desfeito
à beira dágua em círculos
concêntrico
ponteiro dos segundos.

Muro calçado de terra
sustenta a asfixia de suas flores
e escuta
mudo
o tempo voo do inseto
soco sem luva
ferida aberta à tona.

domingo, outubro 26, 2008

Encontro



De longe na tarde escura
teve a impressão de que o corpo dele
se desfazia em neblina.

A imagem se apagava
em sístoles
na esquina da diástole marcada.

terça-feira, outubro 14, 2008

Espuma e sal

Segredo de espuma e sal
saudade que vem de longe
e arde na pele.

Ainda não tem nome
e já consente
no instante que vem chegando.

A noite todo dia
é sem aviso.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Manhã 3



Toda manhã traz uma flecha líquida
de luz sem medo.

Toda manhã
um segredo se extravia
numa janela
mais alta que o sono.

Toda manhã reabre feridas
expondo o corpo do dia
sobre a cama.

terça-feira, outubro 07, 2008

Ocidente

Ocidente apaziguado
o sol da meia-tarde
no bolso da montanha.

O sol da tarde suspira
todos os dias
a terra doma o sol.