terça-feira, maio 28, 2013

Das dores




Doem as previsões
o inacabado
e o cortejo dos sonhos sem futuro.
Doem medos persistentes
e a solidão
irmã gêmea.
Doem os chamados que não escutei.

Dói como raiz desenterrada
todo poder injusto
na servidão dos motivos.
Doem as interdições sem rosto
lobotomia incruenta do desejo.

quarta-feira, maio 22, 2013

Da alegria



 

Ela sempre suspira durante uma alegria
como uma criancinha
a quem a alegria em excesso causa espanto.

Estar muito alegre pode assustar
e mesmo deixar alguém amedrontado.
A alegria
sua curva transcendental
são poderosas
e fazem pouco de nós.

segunda-feira, maio 20, 2013

Visão







O dia se esvaiu
e ainda resisto
presa ao batente da porta
por onde vislumbrei
o paraíso.


sexta-feira, maio 17, 2013

Momento



 
A chuva se recria
nas folhas da amendoeira
e a noite canta
na franja dos telhados
a madrugada líquida que chega.

É tanto o que independe
de nós
aos olhos mais atentos
– as luzes vacilantes nos suprimem
e nada saberemos dos bichos escondidos
do escuro mais escuro –
nada
de tudo que subsiste
sem que os sentidos registrem.

De todos os sinais
sobram frações
segundos, séculos
girando em outra esfera.
Se a pele é fiel ao tempo
o vento embala
ou destrói
e a chuva é mais que suas nuvens.

Olhando pela vidraça a sedução do tempo
quem sabe o mundo que iremos encontrar
depois do sono.
Ainda assim o momento é mais forte
e o esquecimento nos salva.

quinta-feira, maio 09, 2013

Devaneios




Há muito não acontecia,
não é a insônia que conheço
é só o apelo da noite que me chama
ao contato frio da esquadria
entre o aconchego do quarto
e a doçura dessa escuridão
entre o terno e o imponderável.

O universo inicia sua música
diante dos muitos olhos lá do alto.
Há muito não precisava desses olhos
sua luz fosca
sobre a ironia dos grilos orquestrados
no jardim.

O céu não é azul.
O dia teve seus gumes
e há esses momentos.
quando nada se move
nada parece ter vida
além do allegro da água
do outro lado da rua.

Hoje choveu e há cupins sob as lâmpadas
onde a escuridão se dissolve
intercalada ao mundo equivocado,
furando a treva sem freio
na expectativa dos instantes
pairando sobre os túmulos
dispersos pelo mar.

São muitas as moradas deste mundo
e variadas as vozes que a manhã
vai acender daqui a pouco.
Enquanto a escuridão se move
maltrapilha
mergulho em tudo que existe
mas não vejo,
ouço canções inaudíveis
na tentativa de entender
por que aqui é dezembro
e tantas coisas pequenas
nos ocupam.