segunda-feira, maio 31, 2010

Vem ver o sol

  

Segues um rastro imóvel
entalhado na praia
e todo gesto
revela a face dupla de um tempo renitente.

Vives entre coisas guardadas
os objetos as fotos
letras que acendem sóis impenitentes
que há tanto tempo perderam seu calor.

Tudo te guarda de ti e te entristece.

Hoje faz sol
e o ar invade os poros
vem ver
me dá tua mão
vamos até a janela.








sábado, maio 29, 2010

Qualquer casa
















Qualquer casa
por mais sombria
sofre sua parcela de alegria.

terça-feira, maio 25, 2010

Teoria do sonho














Sonhar vem de surpresa
do labirinto guardado por um touro
e o touro tem uns olhos de criança.

Sonhar navega desejos
numa oração a medo
em contas feitas de matéria escura.

Sonhar redime um naufrágio
em voo ao cais errante
onde não chega o barco.

domingo, maio 23, 2010

Enquanto

 

Espera por alguém

conhecido ou insuspeitado
enquanto a vida dura
indissoluta.

Espera algum lugar
uma alegria possível
palavra ou face
antes que a luz
desvanecível
trave em crepúsculo
a aura da espera.

sexta-feira, maio 21, 2010

Ausência 2


Desapareceu
e agora é outro.

A ausência
torna as pessoas especiais.

quarta-feira, maio 19, 2010

Perdas


Ontem esqueci num táxi
um caderno de endereços
desuniforme
:
muitos clichês
– lojas dentistas serviços coisas úteis
sempre recuperáveis
e outros que nem fazem falta.

Os endereços que têm um rosto
moram muito distante do lugar-comum
e agora talvez
estejam de mudança para o silêncio.

segunda-feira, maio 17, 2010

Corpo e cidade


O corpo entregue à cidade
estreia a cada instante
sensações abertas
de luz e sombra
e ruas conjugadas pelo sol
poeira e fumaça.

O corpo continente
treme de asfalto e trânsito
e de um desejo de encontro
e águas secretas.

Fora de alcance
ele sabe
leitos de pensamento
clareiras de silêncio.

Outras estâncias
e o mar invade aos poucos
a praia da memória.

quinta-feira, maio 13, 2010

Hipótese









O dia pode chegar
quando alguém diz
talvez
ou nunca mais
e não se sabe ao certo
mas supõe-se
que a hipótese das flores
será no entanto
intacta e delicada
e o dia não pede nada
além de algum retrato
no ângulo certo
alguma obra bem-sucedida
ou um amor fervoroso
ora calado.

O dia se resolve
como todos
e ninguém saberá
de onde veio a música
se a chuva foi proposital
e à noite algum luar
enovelado em nuvens
tão passageiro
leve e absurdo
por cima das roseiras
sobre o corpo da terra.

terça-feira, maio 11, 2010

Sina


Dividiu a casa
com quem mal conhecia
até perder as asas.

Entortou o rumo
com quem só construía
paredes fora do prumo.

Viveu pelo que não era
sempre o outono
comendo a primavera.

domingo, maio 09, 2010

Ausência*



Campo de neve
a lua ainda não veio.
O branco dessa ausência
encharca o mundo.


*Reeditado