sábado, maio 01, 2010

Pele


(...)
daria todas as metáforas
em troca de uma palavra
arrancada do meu peito como uma costela
por uma palavra
contida dentro dos limites
da minha pele
(...)
Zbigniew Herbert




Às vezes durante dias não dizia nada
embaraçada em pensamentos velozes
emaranhados como galhos velhos de cajueiro
ou voando concêntricos em torno
de alguma coisa que não conseguia descobrir
como dizer com que palavras.

Às vezes falava coisas sem rumo definido
coisas do dia-a-dia – o carteiro as compras a cozinha
como se contornasse o território cego
da coisa que não dizia
guardada dentro da pele que não sua
e mal respira.

10 comentários:

Lou Vilela disse...

Belíssimo, Dade! Há dias assim!

Beijos

Anônimo disse...

Pensamentos subcutâneos.

Até a pele sabe esconder.

Beijo, querida.

José Carlos Brandão disse...

Estado de pura poesia.
Beijo.

Carol Timm disse...

Dade,

A poesia é sempre uma questão de pele, eu acho...

ou nos toca, ou não!

Lindo isso!

Beijos,
Carol

Anônimo disse...

"como se contornasse o território cego
da coisa que não dizia
guardada dentro da pele que não sua
e mal respira"

Belíssimo!

Ivan

Inês disse...

Bela imagem com a qual me deparei por aqui!
Um grande beijo, Poeta!

Gerana Damulakis disse...

Fui lendo num fôlego só: adorei!

Unknown disse...

ouvi ecos de Clarice na escrita, a palavra dissimulada cheia de engenhos e moitas para o verso se esconder. abraço

nydia bonetti disse...

dizem tanto mas nunca dizem tudo, as palavras. já a pele... beijo, dade.

MariaIvone disse...

Gostei muito de seu poema, vi nele minha mãe com alzheimer. Belíssima descrição. Parabéns!