quarta-feira, julho 29, 2009

Aprendiz



O ovo
arco de luz
gota de ar mistura
cor e núcleo
e música e silêncio
no aprendizado de uma vida breve.

Ave
as asas resvalando no limite
o fôlego mais leve
o corpo inflado
as penas
perdendo a luta contra o vento.

domingo, julho 26, 2009

Aquarela



Quase manhã
o vento urdindo a luz
em hastes
cinzentas.
Vento concreto
e áspero de asfalto
lascas de sol nas vidraças.
Os edifícios
erguem punhos severos contra o céu
e lançam seus enigmas sem letras
à carne da cidade amanhecida
temperada
em vida e óleo diesel.

quinta-feira, julho 23, 2009

Janela 3




Charles Edward Munch. Luar 2.



Pelas frestas do céu
lascas de vento
desfazem
em hastes e penas
os pássaros
carne pequena
em busca de um céu calmo
entre os punhos do ar
e seus cristais.

segunda-feira, julho 20, 2009

Insulamento



Antônio Melo. Silêncio.



Hora distante
avulsa
de chuva escura.
A luz em contraponto
se procura
e o vento pulsa em franjas.

O mundo aqui parou
interrompido de ausência.

terça-feira, julho 14, 2009

Pintura



Tela de Victor Chab.


A tinta é desejo em ato
a tela
subversão e substrato.

domingo, julho 12, 2009

Dia do voo




Se ensaiasse voar no fim daquela noite seria o mar aberto o brilho cego do abismo e a aurora sobre as copas ao fim do voo. O dia um ganho inesperado, se conseguisse deslizar alada, cheirando a frutas e flores, e se cortasse os ventos, hastes, cabelos trançados de aves, águas riscadas e a terra que tremesse. Longe do grande barco, plana distante do alto do nono andar em círculos isentos e quer a vida branda das paisagens. Larga as cortinas sem medo do trânsito engarrafado que ainda ruge às dez da noite.

quarta-feira, julho 08, 2009

Declínio

Segue secreto entre gestos antigos
a embaraçar os cabelos em distâncias
e atravessar a noite
emoldurado
por uma harpa de sombras descendentes.
Segue calado
um ímã
desmagnetizado.

domingo, julho 05, 2009

Andorinhas




As andorinhas brincam de coral
piando desafinadas sobre os fios.

Asas sem majestade
melhor que as águias encobrem o sol.

Um bando de andorinhas
explica a existência mínima dos corpos.

quarta-feira, julho 01, 2009

Romance



E. Munch. Vampiro.



Impossível imaginar que alguém
pudesse lançar raízes secretas
nas veias de outra pessoa
e começasse a falar por sua boca
ver o mundo de seus olhos
e plantasse insuspeitado uma semente
do mais ineludível dos desejos
em sua vontade
até que
todo brotado de rosas e raízes
hera e jasmins monitorando o hálito
ele investisse a vida
os gestos penhorados
e emaranhasse o próprio enleio às pernas dela
pelo tempo dos espelhos combinados.