quinta-feira, fevereiro 25, 2010

De modo

Às vezes tua voz
enganadora
mente
e tantas vezes mesmo
amorosa
mente.

Tua voz rouca
mente
sedutora.

 

domingo, fevereiro 21, 2010

Veneza revisitada



A gôndola passou por minha rua
como se ainda fosse carnaval
nesse hemisfério distante de Veneza
e era antiga a canção do gondoleiro
triste sua máscara.

Achei melhor chamar um táxi.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Casa


Klimt. Beijo.


A casa tem passado e está incompleta.
Da porta se veem cantos na penumbra
das janelas a luz dilui-se devagar
ao ritmo da tarde e de lembranças
que não são nossas e no entanto chamam
vozes tão mansas e acolhedoras.

Malas de amor antigo nos esperam
sem palavras
carregadas
de olhares que se cruzaram tantas vezes
carícias no prazo de validade
e um desejo ainda poderoso que deixou  
raízes na sala de jantar.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Relógios


Cuidado com os relógios
ditadores
sobre móveis
e paredes (mais ameaçadores
por sua posição).

Cuidado com suas falácias atrasadas ou
quando se adiantam
deixando pequenos abismos pelo chão.

Corpos rudimentares
mecanismo e tirania
dispostos canibais dissimulados
mas inúteis.

Tempo é trem involuntário
e considera fúteis
todo os relógios.

domingo, fevereiro 07, 2010

Advento



Marc Chagall. Buquê de flores voadoras.


Enquanto a poeira da noite
soterra histórias passadas
um indizível poema nos assiste
dessa janela diante do nascente
a amendoeira antes da primavera
fremente em folhas brotadas de amanhã.

Nada sabemos ainda do advento
dessa palavra translúcida por vir
que entanto em movimento se confirma
como um prenúncio, um coração de feto
a inaugurar a manhã e o poema
inesperado diante da janela.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Remansos




Tanto ficou por dizer naquela tarde
uma vontade de ponte e coisas sinuosas
sem gosto de reedição ou
menções casuais não por acaso.

Conversa vista de frente nos gestos
de quem espera e precisa de
remansos.