sexta-feira, agosto 31, 2012

...



Copo vazio
lua ignorada
céu suspirando treva
tédio de chuva
martírio sem sangue.

quarta-feira, agosto 29, 2012

Passado



O passado e suas asas
semente
nascente fresca
claro-escuro de memória
pássaro louco
sobre nau bem talhada de madeira
singrando seu roteiro.

O passado
cansou das coisas alheias
ávido
grávido de si mesmo
inútil como uma estrela
desabitada.

segunda-feira, agosto 27, 2012

Dia




Luz branca de praia virgem
à tarde se colore
estrela nova
âmbar no céu
à noite adormecida
de escura solidão.

sexta-feira, agosto 24, 2012

Quem sabe



Se eu pudesse pairar no espaço
contava os dias de sol
para fazer um balanço
do que valeu a pena.

Quem sabe ia cair
como um suave paraquedas
ou um corpo lançado
do trigésimo andar.

quarta-feira, agosto 22, 2012

Na praia 2



Deitada na areia
olho o céu
diluída numa vertigem
e o céu penetra meus olhos
tudo o que sou
e compreendo
quem posso me tornar.

segunda-feira, agosto 20, 2012

Na praia


Foto Dora Vilella

Morre um momento passivo
o doce abandono dos membros
esquecidos meus dias brancos.
Aos pés do mar
depositei minha loucura
e abandonei meu passado
sobre a areia.

sexta-feira, agosto 17, 2012

Realidade

Deste momento
passarão ondas
ficam as estrelas
passará o medo
vai ficar o tédio.
Tudo vai passar
menos o momento
que ainda vem
realidade
da qual nada
ainda se sabe.

quarta-feira, agosto 15, 2012

Narcísica



Nem sempre agora
posso ser o que desejei
a imagem boa de ver
a primeira vista do amor
e tudo aquilo que Narciso viu
em seu engano.

Enquanto o lago esteve cristalino
não precisei dele.



Poema reeditado.

segunda-feira, agosto 13, 2012

Inventário




Sei do passado
chegadas e partidas
– viver é contar perdas.

Sei do cansaço
murchas as flores
os ninhos dissipados.

Da urdidura das vozes
tantas vezes
mina uma língua estranha
indesejada.

quarta-feira, agosto 08, 2012

Momento



A chuva se recria
nas folhas da amendoeira
canta
na franja dos telhados
a madrugada líquida que chega.

É tanto o que independe
de nós
aos olhos mais atentos
– as luzes que vacilam
e nada saberemos dos bichos escondidos
no escuro mais escuro –
nada
de tudo que subsiste
sem que os sentidos registrem.

De todos os sinais
sobram frações
segundos, séculos
girando em outra esfera.

Se a pele é fiel ao tempo
o vento embala
ou destrói
e a chuva é mais que suas nuvens.

Olhando pela vidraça a sedução do tempo
quem sabe o mundo que iremos encontrar
depois do sono.
Ainda assim o momento é mais forte
e o esquecimento nos salva.

segunda-feira, agosto 06, 2012

Intervalos de abrir a poesia




Intervalos entre uma e outra tarefa
misturam alegria
terra presa nos sapatos
e às vezes uma surpresa inesperada.
Caem frutos maduros sobre as mãos abertas
pingos de chuva
olhares e intenções ao longo das estradas do futuro.
Abre-se o vento pelas portas
e a pele regenerada de carícias
pode se abrir ao amor
nos intervalos entre uma e outra
das incontáveis tarefas de um dia.

sexta-feira, agosto 03, 2012

Gesto


Tanto silêncio em volta
o mar tão quieto
e esse gesto em mim
rosa rubra
enquanto pelo mundo
quedam caladas as cores
veladas pela noite.

quarta-feira, agosto 01, 2012

...


todo caminho é dádiva do acaso
nesse reino inseguro
respostas se perderam das perguntas
e o tempo parou
infestado de frestas