quarta-feira, outubro 30, 2013

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o corpo dele era um
potro
as faces
tantas
quanto o peito desejasse

acordava antes do rastro
e à luz do astro mais rude
se alastrava em mais um dia

sexta-feira, outubro 25, 2013

Naufrágios




O gesto escrito
de letras soçobradas
que Crusoé deitou à correnteza
já não pertence a ele
mas ao mundo.

O gesto disponível
atravessa distâncias
grito mudo transcrito
rito
transgressão numa garrafa
ao mar do tempo.

terça-feira, outubro 22, 2013

Alguém




Um traço, um lenço, um terço
o jeito registrado num retrato
e a casa de repente tão deserta
silenciando as vozes.

Alguém restou e fala por sinais
à espera da resposta que não vem
e nada mais se sabe
além de cinza ao vento
que pousa aqui e ali
em todas as histórias.


quinta-feira, outubro 17, 2013

Rostos, máscaras



Rosto cheio
é o que se mostra
à luz do dia
nos lugares
convencionais
de conviver.

Menos cheio será
o da tarde
na volta do trabalho
do bar da esquina
ou de uma festa
modelado apenas
pelo pensamento.

Depois
na hora do sono
em branco
o rosto.

Sem o riso
sem maldade
se não precisa
impressionar
e muito menos
mentir
no máximo
um rosto pode estar
ausente
adormecido
ou molhado
de lágrimas
que afinal
podem correr
livres.

domingo, outubro 13, 2013

Amei alguém



Amei alguém
dissidente
além do impossível
além
do que se possa tolerar.
Amei alguém
fora da lei.
E quem amei
chamava-se altar
um hino de pureza
a perfeição.
Ninguém entenderia
nem eu.

domingo, outubro 06, 2013

Sinais




Ainda em terra
brotaram  rastros
marulhos de uma tarde
aquecida por estrelas.

Entram de manso
no barco imenso da noite.

Em cada porto
o brilho tênue do céu
a casa pronta
a porta destrancada.