quarta-feira, novembro 30, 2011

Palavra



Palavra solitária
vaga sem rumo
– será grafismo?
mero fonema
alucinatório?

Existem bocas
rimas e credos
em que se guarda
mas não responde
quando indagada.

Palavras de quem sabe
de mãos dadas
explicitam interpretam
também sabem mentir
sempre instruídas.

Palavra solitária
como gente
nega o mundo
é para si
o enigma que sonha.

segunda-feira, novembro 28, 2011

Milícia




Os anjos não padecem das pendências
nem dos propósitos roídos pelo tempo
de que os mortais carecem.
São seres redimidos
afiançados
bem nutridos
de impassível paciência
de perfeições sem saída
ilhados
sem descendência.

Nos ócios da eternidade
nem mesmo o tédio
nada supõem dos dias nem das horas
nada lamentam mas cumprem
sem remédio.

sexta-feira, novembro 25, 2011

Noite bruta


 
Frutos da noite
germinam
imitando a lua cheia.
No chão
a distância brilha
urde os favos da colmeia.

Desejos
na noite bruta
inventam grutas e beijos.

quarta-feira, novembro 23, 2011

Das dores


Robert Mc Intosh



Doem as previsões
o inacabado
e o cortejo dos sonhos sem futuro.
Doem medos persistentes
e a solidão
irmã gêmea.

Doem os chamados que não se escutaram.

Dói como raiz desenterrada
todo poder injusto
na servidão dos motivos.

Doem as interdições sem rosto
lobotomias incruentas do desejo.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Canção sem partitura

Tudo estava tão triste na sala e na varanda
os pássaros da rua tão calados
imaginava por quê
sem ter ideia do que estaria por vir
dali em diante todas as tardes
à hora em que não chegaria ninguém
como todas as horas agora aconteciam
e as distâncias pareciam maiores
salas de espera mais desoladas que de costume
e as pessoas impenetráveis e secas
passas velhas
não importa a idade que pudessem ter
ou que razões carregassem nas mochilas.

Tudo jazia
a vida mecanizada
o dia-a-dia monótono
por causa do horizonte fechado
a poucos metros de distância de seus olhos
e dos relógios
que os homens nunca deixam de fabricar
para ninguém
sem acontecimentos ou vozes
nem olhares
que abrissem outra visão
impossível de iluminar
em uma casa tão pragmática
e bem equipada
para viver espantando as lembranças
e satisfazendo desejos sozinhos
que as traziam de volta
sem calor nem voz.

Lembranças são partituras
escritas para nenhum instrumento.

sexta-feira, novembro 18, 2011

Madrugada


Te conheci bem antes dessa manhã
quando te inventei.
Te trago há tanto tempo!
A tua identidade é um pouco a minha,
teu pensamento deita em meu repouso.

Te conheci bem antes
e te reconhecer
é como andar de madrugada pelo campo.

quarta-feira, novembro 16, 2011

Matinal


Imagem da internet sem menção de autor

No café da manhã
o sol corta em diagonais
a realidade
caleidoscópio nos muros
gotas de luz na jarra da laranja.

Da janela azul
uma inaudível canção
avassala
inquietante
o coração do dia.