quinta-feira, abril 30, 2009

Etiqueta





A poucos metros do trilho
a fila a massa e os gestos se
misturam de vozes
íntimas de agora
e nunca.

O caos desfila no rush da calçada
ruge nos trens do metrô
e arranca da blusa nova uma etiqueta
última pluma.

 

sábado, abril 25, 2009

Águas



Águas correm nos sentidos
em um silêncio leve
Labirinto.

Asas de sulcar a terra
a correnteza transluz o que nos deve.

Caminhos dágua são nossos
de navegar transidos das histórias
que vêm das curvas da Terra
: são ventanias
conchas fraturadas
uma enxurrada de escória e
restos de ilhas.

Pela garganta do mar
a correnteza insinua
luz engolida
sol lua
a treva de permeio.

Leito de rio
ainda que manso
engrossa devagar
golpes de abismo.

Os córregos do prado
destilam em seus caminhos
percursos ainda mais longos
que uma vida.

quinta-feira, abril 23, 2009

Prelúdio




Ouviu uma fuga de Bach e
três prelúdios temperados
sem canela.
Quatro razões de respeito
para voltar
não ficar
e atender
à voz ateada ao corpo.

Fechou com lacre de cera
a caixa das partituras e
desceu todas as cortinas.

Foi encontrado na manhã seguinte
no silêncio e
na penumbra fresca de sua sala.

terça-feira, abril 21, 2009

Novena



Trinca os dentes em número de cinco
dois em cima e três embaixo
e sente a sede de morder alguém
chegar da caixa toráxica.

Afasta a cortina rendada
de volta a sua fuga predileta
e acende a vela de cera ao santo que
impassível
parece rir no fundo do oratório.

sexta-feira, abril 17, 2009

Fuga


Dentro da caixa achou
dentes de leite
dezesseis velas de aniversário
cera azul
os números de papelão do jogo antigo
e o copo desmontável
que já não mata mais nenhuma sede.

Na máquina do tempo
a sala transformada em barco
cortinas enfunadas
num roteiro de fuga.

domingo, abril 12, 2009

In memoriam



Na manhã imatura
que o sol depôs antes do meio-dia
a música do corpo interrompeu sua dança.

Tinha dezoito anos
vestia ainda o futuro
como quem a qualquer momento
vai levantar e rir de tanta gente
chorando a sua volta.

O relógio ciscou no entanto seus segundos
até que escureceu
e a história por viver
adormeceu
trançada em mãos de mármore.

São cinza agora
os músculos a pele os ossos longilíneos
e o timbre aveludado de baixo profundo
que tanto prometia nos diálogos
que havia ainda de ter com a clientela
seis anos adiante
quando ganhasse o diploma
de endocrinologista.

 

quinta-feira, abril 09, 2009

Perfil 2

O corpo dele é o de um potro
as faces tantas
quantas o peito deseje.
A vida corre tão fácil
se alastrando pelo dia
à luz de uma aura
rude como um sol.

sexta-feira, abril 03, 2009

Entrefrases



Costurado entre as vozes
o silêncio
tenta passar despercebido.