sexta-feira, julho 23, 2010

Tempo

Queridos, como tudo nesta vida, blog também precisa de férias, recesso, descanso.
Mesmo que não comente com frequência, estejam certos de que continuo lendo vocês, poetas e amigos.



Beijos e até a volta.

terça-feira, julho 20, 2010

Janela

Janela sem paisagem
sonha só de ouvir dizer
os mares, as luzes longe
o sol escorregando
pelo dorso da cidade.

Pensa florestas
escuta a chuva.
Numa nesga de céu
pela vidraça
vê o infinito.

Janela sem paisagem
queria tanto a estrela da manhã
na madrugada
e dorme
sempre fechada.



dade amorim






Fábio é um amigo recente, desses que a gente gosta de graça. Ainda mais conhecendo os poemas dele, espontâneos como esse In-venta, que parecem refletir a personalidade de seu autor.  

IN-VENTA
 
por entre as nuvens 
o sol se espreme 
e cisma 
e empurra 
e passa sozinho 

iluminuras de sorrisos 
olho de fogo que se abre 

caminho  

Fabio Rocha

domingo, julho 18, 2010

Rio acima


Temos os olhos cheios
das coisas que não vemos.
:
a guerra de outro hemisfério
o rio de água apagada
a morte em nossos barrancos
lavadeiras encurvadas
e a flor carnívora
do desarrimo.

Temos ouvidos prontos a esquecer
no escuro
as baleias retalhadas
o barco vazio à espera
predadores de mesa farta e
rio acima
nas casas mornas da margem
as mães e suas crianças mal nascidas.

De tanto ver nas fotos
a pele grossa lavrada pela terra
as mãos perderam sua destreza.


dade amorim


Há muito visito Ortografia do Olhar e nunca deixo de me encantar com os poemas de Graça, assim como os que ela escolhe entre os de seus poetas favoritos.  E quem visitar o Ortografia vai concordar comigo.
Do lado mais calado do tempo
Do lado mais calado do tempo
podemos falar das mãos das mães,
tão frágeis, quando trazem nas costas
a febre dos filhos.
Podemos sentir o rosto perturbado
das crianças que nos mostram a boca
mordida pela fome.
Podemos querer de volta o fascínio
dos papagaios de papel e do tempo
em que não faltava ninguém
nas fotografias da família.
Graça Pires
De O silêncio: lugar habitado, 2009

sexta-feira, julho 16, 2010

Modus operandi


Aqui cabem amor esquecimento
e tudo mais que a vida acondicione.
Cabe a mochila das férias
e mais o crime
o medo
o espanto e a coorte dos desejos.

Cabe o perdão aqui
contanto que as articulações sejam poupadas
e cabe mais uma vontade imensa
obstinada
de pétalas se abrindo.


dade amorim




Poema-amigo – a vez de Jefferson

Jefferson Bessa é desses poetas amigos sempre presentes, autor de poemas encantadores e encantados, de um delicioso lirismo sensual que vale a pena acompanhar.

corpo lido

no meio da página
respira úmido
o poema é corpo

o céu reflete a folha
nua a mostrar os braços
na dança escrita

pelo paladar escorrem
diversos sabores
de versos ingeridos

no leito da audição
da boca sai o som
a dizer claro sussurro

na ponta dos olhos
se vê a pele tesa
a letra tateando

sobraram palavras
a noite farta vai arrastá-las
às entradas do corpo lido


Jefferson Bessa

quarta-feira, julho 14, 2010

Correio*

Vem do trabalho às sete
na caixa do correio
as mãos cheirando a rosas
e o pensamento molhado de mensagens
recolhe contas
comunicados bancários e alguns volantes
publicitários.

dade amorim
*Reedição.



Poeta premiada, de produção expressiva, a amiga internauta Maria Azenha tem inúmeros livros publicados, está na Wikipédia e tem vídeos gravados no YouTube. Além dos poemas, ela faz música, como se pode ouvir aqui.

É dela essa pequena joia:

cultivo rosas brancas
em varandas a ocidente
daqui avista-se o mar
e o mar é grande

chove.

atravesso um caminho branco

chove.

o mar entrou pelo meu coração

Maria Azenha







segunda-feira, julho 12, 2010

Mesmo sabendo

Há um pássaro invisível – sei dele como de mim
que me visita alguns dias,
canta inaudível
e diz coisas profanas.

Um outro pássaro feito de alegria
altera meus limites.

Por ele às vezes uma lembrança
volta a ser desejo
repete melodias
e dança
mesmo sabendo que o tempo segue seu caminho.


***


Poema-amigo

Adair Carvalhais Júnior é um poeta e produção intensa e rica de beleza, em seus vários blogs: Ventos desencontrados, Todo poema é um risco, Terra forasteira.

Trouxe um de seus poemas, da série Biografia:


biografia XXXIII: maduro

oferecer às mãos dos
meninos todos
fios grisalhos harmonizar

os passos ao
pendor da
terra

acolher o pai que tropeça
atrás e jamais se
esquece as sombras

que exalam os
frutos límpidos das
fontes

cada passo uma
viagem completa um
perene

amanhecer

sábado, julho 10, 2010

Inscrição

Lembrar alguém
descolado
irreverente
libertário
que desconhece
contente
protocolos
é quase ser feliz.

Amigo bem-amado
sempre capaz de voar
e rir e comover.

Tudo que diz e faz
fala de novos caminhos
e de paz
de um mundo delicioso
inexplicavelmente íntimo
e amoroso
como um ninho.

De que galáxia em flor
você voou?

dade amorim




Fred Matos no Poema-amigo

Fred Matos é um poeta de Salvador que só conheço da rede, mas que se faz querer bem pela sensibilidade de sua poesia, pelas palavras amenas e pela alegria de viver que transparece em tudo que escreve - mesmo quando não se trata de expressar o que há de mais alegre.

Escolhi a ilustração usada poir Fred no Nas horas e horas e meia, seu ótimo blog.

infância


escrevi este poema com os silêncios
que sobraram no sótão
onde
na infância
escondíamos as sementes
apanhadas nas frestas
dos paralelepípedos polidos
de uma rua úmida
coalhada de borboletas
sóis siameses
e anos luminosos
deliciosamente nossos
ossos nus nações limítrofes

e repito tal mantra um verso apenas:
nada é vão.


Fred Matos

quinta-feira, julho 08, 2010

Rastros


Viver é praia
rastros do mar
e tudo revela
a face dupla do tempo.

Vive-se entre guardados
objetos e fotos
letras de acender nomes
texturas entrelaçadas
cipós ao sol e ao vento.

Vêm de longe
os rastros
os desenhos.

Ninguém foi o mesmo
de agora.


dade amorim





Lou Vilela no Poema-amigo

Uma amiga relativamente recente, Lou é daquelas poetas que sabem dizer tudo em poucas palavras e muita harmonia. Os poemas de Lou são sempre um prazer de leitura, música e eloquência. E além de tudo, desconfio que Lou é uma dessas pessoas de coração de ouro maciço.

Pedaço mastigado

Quando me defino
sou  passado
- rio percorrido,
pedaço mastigado.

No hoje transbordo,
rumino e me estranho.

Lou Vilela