Mas é aqui
: descemos ao mais tenro
e não se volta à tona
depois disso.
Aqui
os quintais são cinzentos
e se ouvem outros sons
que não o canto de estimação
dos pássaros
dourados.
Quando se consegue chegar a esse fundo
de quintal e poeira
e escadaria
o tempo nem mais importa a nossos pés.
O tempo
é um registro desigual
nem armadilha
nem prêmio
e é sem volta.
poema reeditado
Poema-amigo com Lalo Arias
Lalo é um poeta de imagens sugestivas, que levam a gente por seus caminhos como se alguém nos levasse pela mão. Um poeta de produção numerosa, intensa e - coisa rara - de qualidade homogeneamente muito boa.
Apenas caminho
sonho que estou dormindo
encolhido
minhas mãos
estão entre as pernas
é uma outra vida
- como dizem
não, não durmo
apenas caminho
olho novamente
para as pontas dos pés
é só uma tarde a mais
quase caindo
outra vez o azul
me pertence
sou um homem
sempre fui um homem
forte
mas frágil
e se pudesse voltaria
com as desculpas necessárias
por todos meus erros
mesmo que demorassem
uma vida inteira
mais uma
e outra vida ainda
continuo andando
voltado para dentro
da noite que se aproxima
sonho que estou dormindo
encolhido
minhas mãos
estão entre as pernas
é uma outra vida
- como dizem
não, não durmo
apenas caminho
olho novamente
para as pontas dos pés
é só uma tarde a mais
quase caindo
outra vez o azul
me pertence
sou um homem
sempre fui um homem
forte
mas frágil
e se pudesse voltaria
com as desculpas necessárias
por todos meus erros
mesmo que demorassem
uma vida inteira
mais uma
e outra vida ainda
continuo andando
voltado para dentro
da noite que se aproxima
Lalo Arias
(junho, 2010)
12 comentários:
que ninguém nos ouça, Dade, mas este poeta Lalo(que mora também aqui do lado esquerdo do meu peito) é um arraso, não é? e você tem razão, a identidade forte - a voz identificável - da sua poesia, é coisa rara de se encontrar. acabei de ler seu post mais recente - bonito de doer. e estes dois poemas, afinadíssimos. beijos beijos
Dois poemas, um mesmo registo: LINDO!
Nossa, Dade, só você mesma pra me deixar assim encabulado!
Gracias, besos.
Dade, para mim, sua poesia também mantém continuamente uma grande e impecável qualidade. Esse seu poema é muito sensível e reflexivo.
Também leio o Lalo e aprecio muito.
Beijos.
Oi Dade,
Apenas caminho... no quintal... Caminhei pelo seu quintal e nessa caminhada poética aprendi e me deliciei... Belo poema em sincronia com o poema do Lalo. Sempre um prazer te visitar. Bj,
Úrsula
Dade,
Eu não sei mesmo como você encontrou tanta poesia maravilhosa, mas estou amando seguir a sua poesia unida a tantos bons poetas que ainda não conhecia.
Você está de parabéns e seu blog é uma passagem fundamental para quem gosta de poesia.
Beijos e bom final de semana para nós!
Carol
o quintal aproxima passos e nos faz caminhar em círculos de recordações, poéticas do espaço,
beijos
O tempo-espaço acontece no poema. Você sempre fala do tempo de modo singular, Dade!
Lindo!
Beijos.
Lindos poemas!
O diálogo se faz único, impressionante! Lalo é um dos nossos grandes poetas, com expressões que sempre nos levam à reflexão. Numa linguagem direta e sem muito "papo-cabeça".
Parabéns, Dade!
Pelo seu poema e pela escolha do poeta.
Beijos
Mirze
Belos, belos. Belíssimo diálogo. Aliás, como já disse, belíssima ideia de dialogar assim. Os posts estão de arrepiar!
sem volta. final perfeito! todo o poema é delicioso. beijos, Dade
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