sexta-feira, julho 02, 2010

Quintal

Mas é aqui
: descemos ao mais tenro
e não se volta à tona
depois disso.

Aqui
os quintais são cinzentos
e se ouvem outros sons
que não o canto de estimação
dos pássaros
dourados.

Quando se consegue chegar a esse fundo
de quintal e poeira
e escadaria
o tempo nem mais importa a nossos pés.

O tempo
é um registro desigual
nem armadilha
nem prêmio
e é sem volta.


dade amorim
poema reeditado






Poema-amigo com Lalo Arias

Lalo é um poeta de imagens sugestivas, que levam a gente por seus caminhos como se alguém nos levasse pela mão. Um poeta de produção numerosa, intensa e - coisa rara - de qualidade homogeneamente muito boa.


Apenas caminho

sonho que estou dormindo
encolhido
minhas mãos
estão entre as pernas
é uma outra vida
- como dizem

não, não durmo
apenas caminho
olho novamente
para as pontas dos pés
é só uma tarde a mais
quase caindo

outra vez o azul
me pertence
sou um homem
sempre fui um homem
forte
mas frágil
e se pudesse voltaria
com as desculpas necessárias
por todos meus erros
mesmo que demorassem
uma vida inteira
mais uma
e outra vida ainda
continuo andando
voltado para dentro
da noite que se aproxima


Lalo Arias
(junho, 2010)


12 comentários:

nydia bonetti disse...

que ninguém nos ouça, Dade, mas este poeta Lalo(que mora também aqui do lado esquerdo do meu peito) é um arraso, não é? e você tem razão, a identidade forte - a voz identificável - da sua poesia, é coisa rara de se encontrar. acabei de ler seu post mais recente - bonito de doer. e estes dois poemas, afinadíssimos. beijos beijos

MariaIvone disse...

Dois poemas, um mesmo registo: LINDO!

Unknown disse...

Nossa, Dade, só você mesma pra me deixar assim encabulado!
Gracias, besos.

Anônimo disse...

Dade, para mim, sua poesia também mantém continuamente uma grande e impecável qualidade. Esse seu poema é muito sensível e reflexivo.

Também leio o Lalo e aprecio muito.

Beijos.

Úrsula Avner disse...

Oi Dade,

Apenas caminho... no quintal... Caminhei pelo seu quintal e nessa caminhada poética aprendi e me deliciei... Belo poema em sincronia com o poema do Lalo. Sempre um prazer te visitar. Bj,

Úrsula

Carol Timm disse...

Dade,

Eu não sei mesmo como você encontrou tanta poesia maravilhosa, mas estou amando seguir a sua poesia unida a tantos bons poetas que ainda não conhecia.

Você está de parabéns e seu blog é uma passagem fundamental para quem gosta de poesia.

Beijos e bom final de semana para nós!

Carol

Unknown disse...

o quintal aproxima passos e nos faz caminhar em círculos de recordações, poéticas do espaço,

beijos

Jefferson Bessa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jefferson Bessa disse...

O tempo-espaço acontece no poema. Você sempre fala do tempo de modo singular, Dade!
Lindo!
Beijos.

Unknown disse...

Lindos poemas!

O diálogo se faz único, impressionante! Lalo é um dos nossos grandes poetas, com expressões que sempre nos levam à reflexão. Numa linguagem direta e sem muito "papo-cabeça".

Parabéns, Dade!

Pelo seu poema e pela escolha do poeta.

Beijos

Mirze

Nilson disse...

Belos, belos. Belíssimo diálogo. Aliás, como já disse, belíssima ideia de dialogar assim. Os posts estão de arrepiar!

Fabio Rocha disse...

sem volta. final perfeito! todo o poema é delicioso. beijos, Dade