As andorinhas brincam de coral
piando desafinadas sobre os fios.
Asas sem majestade
melhor que as águias encobrem o sol.
Um bando de andorinhas
explica a existência mínima dos corpos.
dade amorim
Poema reeditado.
Poema reeditado.
Poema-amigo
Quando li um poema de Daniel Francoy pela primeira vez, em 2004, fiquei de queixo caído. O blog dele naquele tempo se chamava O Desaparecido. Nesse blog, chamo a atenção em especial para o excelente poema sobre Samuel Beckett.
Daniel não tem o perfil do blogueiro dinâmico, que posta todo dia, comenta e segue os blogs dos outros. Sua intenção é publicar, dar a conhecer seu trabalho. Desconfio que a vida de Francoy gira em torno desse trabalho, o que muda muita coisa, porque fala de sua personalidade e da necessidade da poesia em sua vida.
Pássaro
Sei das revoadas de pardais grizes
a invadirem as copas das árvores
e sei das centenas de andorinhas que
- à primeira centelha do calor -
movem-se no céu, e movem-se tão compactas
que é como se o céu se movesse
e ao olhar para o alto, o que os olhos bebem
é migração e queda.
Das gaivotas também sei: não são brancas
como as gaivotas de poemas.
Eu as vejo: pássaros sujos em praias sujas
a disputar o que os turistas oferecem
e a morrerem nos canais onde a água impoluta
o mar alcança – imundíce plúmbea
das vagas a rebrilhar sobre o arrebol.
E há o abutre.
Há o morto abutre à margem da estrada:
encontrei-o ao amanhecer, indistinto
da terra e da relva revolvidas;
reencontrei-o ao poente, tendo ao fundo
o céu frio, o céu sem raízes,
o céu que é um véu de cores ávidas
a desvanecer.
E sei que amanhã lá estará o abutre:
ainda morto e ainda arraigado
ao que renasce.
Sei que o reencontrarei ao ocaso
e não haverá dor
em mim ou fora de mim por sua morte.
Quando muito, em hora de cansaço,
haverá o desejo de transformá-lo em melro
e de cantá-lo como se melro fosse.
Daniel Francoy
6 comentários:
Sua andorinha singela, e a dele, intensa. Que combinação maravilhosa de poemas, adorei.
Beijos.
Dade,
Agora relendo com mais calma, gostei ainda mais dos poemas.
Beijos,
Carol
Lindos poemas, grandes afinidades, nessa curtição dos pássaros.
Beijo e parabéns pelo blog
Lenilza
Lindo poema, Dade!
"Um bando de andorinhas explica a existência mínima dos corpos"
O poema de Daniel completa em outro tom, como em duas vozes, o seu.
O desejo de transformar o abutre em melro, é lindo demais. O abutre é um pássaro que por sua missão todos os repelem. No entanto ele não ataca. Apenas aguarda pacientemente a hora. E está en extinção.
Aplausos para ambos!
Beijos
Mirze
o pássaro do poema é mais emplumado, a realidade mais ensandecida, as andorinhas daqui não gorjeiam em lá, desafinam em tons bemois, e tudo é transformação se há (en)canto,
beijo
Obrigado por Blog intiresny
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