terça-feira, agosto 18, 2009

Em casa



Para Susana Miguel


No interior da casa
o que está dentro de tudo ressuscita
e inicia um canto novo a cada instante.
Não é verdade
que as coisas acontecem sempre iguais
porque as palavras mudam
e muda a cor das folhas
muda o pássaro
de cada dia pousado no beiral.
Dentro da casa há mergulhos na noite
estradas imaginárias e o vazio
que às vezes se percorre
como quem volta do exílio
e já não sabe onde deixou o livro interrompido
nem mais se lembra do instante
decisivo
dos pontos religados pelos olhos
aquele que decide
o que não pode se chamar destino.

Dentro das mãos
o tempo rasga o interior das coisas.

15 comentários:

Natália Nunes disse...

que bonito isso :)


ah, então vc também "escolheu" agosto para nascer? :D
é de leão ou virgem? eu sou virginiana, do esmaecer do mês.


um abraço!

Maria Azenha disse...

a beleza consagrada...

"dentro das mãos o tempo rasga o interior das coisas"

Belo.

beijo,
mariah

Marcelo Amorim disse...

"muda o pássaro
de cada dia pousado no beiral"

Vira e mexe penso nisso, enquanto tomo minha caneca de café na varanda de casa, que fica de frente pra uma porção de árvores e pássaros. Será que aquele é o mesmo de ontem? Será que ele me reconhece? Veio me visitar de novo?

Lindo poema, prima, dos mais bonitos entre os recentes daqui.

Natália Nunes disse...

mesmo?

porque eu sou uma virgem-quase-leoa haha.
mesmo. por dois dias eu não nasci sob o signo do sol.


ah, muito obrigada pelo elogio, fiquei lisongeada, ainda mais vindo de outra poeta :)


um beijo.

Carla disse...

Que poesia linda! A casa, o pequeno e o simples se tornam um labirinto infinito, inventado pelo tempo, e você faz essas voltas em tão poucas palavras, tão belas, tão suaves...
Gosto desse jeito de desenhar as voltas do tempo.

(achei aqui por acaso, vasculhando os espaços que a Roberta Tostes costuma visitar)

Carla disse...

Comentei uns outros dois mais antigos, lá embaixo. Há tanto, tanto, tanto para ler aqui. Tantas voltas bonitas suaves e fortes do tempo.

Jefferson Bessa disse...

O revolver dos interiores.

um abraço.


Jefferson

fernanda sal m. disse...

Belo poema ! O tempo, da casa, nosso, das mãos.
Muito belo e suave.

Abraço.

VFS disse...

o pulsar dos uniVersos

...

no tempo das mãos.

sim. belo!

um beijo
Vicente

Maria Azenha disse...

Um beijinho de parabéns, muita poesia e paz.

Bj

Estela disse...

"...porque as palavras mudam e muda a cor das folhas muda o pássaro
de cada dia pousado no beiral"
Lindo demais.
Bjs.

Gisela Rosa disse...

"dentro das mãos o tempo rasga o interior das coisas"



maravilha Adelaide, um grande abraço de admiração

Jean disse...

Cette photo est une merveille .
Elle me fait penser à une peinture de Berthe Morissot.

Carla disse...

Obra inteira? Diria que é uma obra toda despedaçada. Ou nem chega a ser uma obra... São cartas...

Obrigada pelo comentário lá!

Beta disse...

É de lágrimas virem aos olhos, um presente para quem lê. Nascimentos, ressuscitações. Instantes decisivos que são todos, cristalizam-se na memória, ou na pele, nas mãos agarradas ao tempo que rasga destinos. E que nos leva por vastas veredas, vividas, imaginadas, e nos traz de volta; o que se perde ou se encontra pela casa, pela estrada, na poeira que acumula histórias, nos poemas que percorrem o que está dentro de tudo. Belezas de há muito, ou por tocar. Um dos mais lindos e tocantes poemas de sua sempre excelente safra de versos. Eu aprendo, sinto, saio comovida como de praxe!
Um bjo,