Para Susana Miguel
No interior da casa
o que está dentro de tudo ressuscita
o que está dentro de tudo ressuscita
e inicia um canto novo a cada instante.
Não é verdade
Não é verdade
que as coisas acontecem sempre iguais
porque as palavras mudam
porque as palavras mudam
e muda a cor das folhas
muda o pássaro
de cada dia pousado no beiral.
Dentro da casa há mergulhos na noite
de cada dia pousado no beiral.
Dentro da casa há mergulhos na noite
estradas imaginárias e o vazio
que às vezes se percorre
que às vezes se percorre
como quem volta do exílio
e já não sabe onde deixou o livro interrompido
nem mais se lembra do instante
decisivo
dos pontos religados pelos olhos
aquele que decide
aquele que decide
o que não pode se chamar destino.
Dentro das mãos
Dentro das mãos
o tempo rasga o interior das coisas.
15 comentários:
que bonito isso :)
ah, então vc também "escolheu" agosto para nascer? :D
é de leão ou virgem? eu sou virginiana, do esmaecer do mês.
um abraço!
a beleza consagrada...
"dentro das mãos o tempo rasga o interior das coisas"
Belo.
beijo,
mariah
"muda o pássaro
de cada dia pousado no beiral"
Vira e mexe penso nisso, enquanto tomo minha caneca de café na varanda de casa, que fica de frente pra uma porção de árvores e pássaros. Será que aquele é o mesmo de ontem? Será que ele me reconhece? Veio me visitar de novo?
Lindo poema, prima, dos mais bonitos entre os recentes daqui.
mesmo?
porque eu sou uma virgem-quase-leoa haha.
mesmo. por dois dias eu não nasci sob o signo do sol.
ah, muito obrigada pelo elogio, fiquei lisongeada, ainda mais vindo de outra poeta :)
um beijo.
Que poesia linda! A casa, o pequeno e o simples se tornam um labirinto infinito, inventado pelo tempo, e você faz essas voltas em tão poucas palavras, tão belas, tão suaves...
Gosto desse jeito de desenhar as voltas do tempo.
(achei aqui por acaso, vasculhando os espaços que a Roberta Tostes costuma visitar)
Comentei uns outros dois mais antigos, lá embaixo. Há tanto, tanto, tanto para ler aqui. Tantas voltas bonitas suaves e fortes do tempo.
O revolver dos interiores.
um abraço.
Jefferson
Belo poema ! O tempo, da casa, nosso, das mãos.
Muito belo e suave.
Abraço.
o pulsar dos uniVersos
...
no tempo das mãos.
sim. belo!
um beijo
Vicente
Um beijinho de parabéns, muita poesia e paz.
Bj
"...porque as palavras mudam e muda a cor das folhas muda o pássaro
de cada dia pousado no beiral"
Lindo demais.
Bjs.
"dentro das mãos o tempo rasga o interior das coisas"
maravilha Adelaide, um grande abraço de admiração
Cette photo est une merveille .
Elle me fait penser à une peinture de Berthe Morissot.
Obra inteira? Diria que é uma obra toda despedaçada. Ou nem chega a ser uma obra... São cartas...
Obrigada pelo comentário lá!
É de lágrimas virem aos olhos, um presente para quem lê. Nascimentos, ressuscitações. Instantes decisivos que são todos, cristalizam-se na memória, ou na pele, nas mãos agarradas ao tempo que rasga destinos. E que nos leva por vastas veredas, vividas, imaginadas, e nos traz de volta; o que se perde ou se encontra pela casa, pela estrada, na poeira que acumula histórias, nos poemas que percorrem o que está dentro de tudo. Belezas de há muito, ou por tocar. Um dos mais lindos e tocantes poemas de sua sempre excelente safra de versos. Eu aprendo, sinto, saio comovida como de praxe!
Um bjo,
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