I
A roupa no varal entrega ao vento
a desbragada candura dos botões
e há uma canção de luz em andamento.
II
Além da mesa do almoço
o gato apaziguado nos espia.
Na tarde mansamente inaugurada
reaparecem as flores do futuro
: dentro de nós o vento se anuncia.
III
O vento na janela subverte
o quarto de dormir nesse
bailado insurreto de cortinas.
Nos muros do jardim
as vozes breves
em contraponto de intenções minúsculas
pensa por nós o vento
e imprecatada
a lava fria da lua nos contempla.
Varrido o chão da noite
o tempo recrudesce em nossa cama.
IV
O pássaro no mundo
de suas grades
é ele mesmo quadrado diminuto
afeito ao voo curto
e rumo ao céu
desfere a fantasia de seu canto.