sexta-feira, novembro 30, 2007

Noturno



A noite é sempre fuga
de um dia.
É quando os rios
lavam os lençóis
que a terra usou
e a lua espia.

Alheio a tudo
o amor perfuma a noite.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Filme


Foto Jean Haute Garonne.

Queria um filme
lírico e felino
com dois ou três cenários
tão somente.

Um filme com parreiras
trilha sonora de nuvens passageiras
e cantos de manhã

filme perdão.

Uma janela de trem em minha sala
para a paisagem do campo
e duas alas para namorar
à sombra que desvenda o meio-dia.

Queria Dioniso de galã.

terça-feira, novembro 27, 2007

Passagem


Passamos pelo pórtico do aviso
e te deixamos
coberto de ternura
e perfumado de silêncio.
e lágrimas.

Trazemos para sempre
em nossos olhos
o olhar que tão bem te conhecemos
o jeito brando de teu afago
e as manhãs que teu sorriso fez nascer.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Perfil




O que os outros disseram
casuais
nem chegou a escutar.
Não discute
com os que pensam
sangue e discórdia
: são palavras.

Só quer saber dos ventos
da luz que vem do mar
cores que o mundo veste.
Importam rostos
amigos
voz de criança
a música dos dias
e o amor
esse hesitante

volúvel
esse obscuro.

sábado, novembro 17, 2007

Farpas






Falas às vezes
como quem desembarca
de estrelas falsas.

Farpas que reencontro
nas curvas do caminho
à hora da sombra.

Falas rascantes
a quebrar em pedaços
o meu sono.

sexta-feira, novembro 16, 2007

A palavra que dói

Palavra
pode ser
lâmina quente
ao longe
arremetida
palavra como flexa
desferida.

Dita baixinho
palavra esbraseada
deixa na pele
marca tatuada.

Palavra pode ser
lâmina fina
cirúrgico instrumento
de fria intervenção
em algum momento
sem anestesia

quinta-feira, novembro 15, 2007

Ser




Pouco sei sobre ele
senão ideias
e as ideias são
unicamente
as fábulas que o pensamento preferir.

Nada sei sobre o corpo que habita
nem das sementes que nele
adormecidas
preparam ainda seus frutos.

Sei a imagem que mostra
distraído
e que impressões desperta nas pessoas
quando mergulha em quietas sinfonias
e num silêncio de árvore
esquece o mundo.

Bem pouco sei dele
mais que do amor talvez
e tanto.
Mas sei das flores
em sua rua quieta
de um vento primitivo
quando semeia folhas

pela tarde.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Asas


Foto Michelle Olaya Ortega. Barcelona.



Asas do instante
abrem caminho
leves.

O instante alado
perfuma
nossas vidas.

domingo, novembro 11, 2007

Ritos


Trilhas riscadas
terras inimigas
de onde os desejos fogem
: atalhos ou estradas
contraditos.

De tudo que separa
e nos esgarça
resta o sonho
um rumo incerto
que a esperança acende.

sábado, novembro 10, 2007

Intensidades


A salvação
margeia cotidiana e silenciosa
burocracias tristes
e a face retorcida dos deveres.

Encerra intensidades
a pele que arrepia
riso espontâneo
e algumas formas
de amor e amizade.