O banco de dados do mundo
começa com o arquivo da gênese
escorrendo por entre os dedos do Senhor.
Todo homem tem seu tempo
mas nem todos espremem seu suco até o fim
e o que resta é um arquivo morto
ou quase isso.
Os ônibus lotados datam de mais de um século
mas só nos novecentos
os homens começaram a pendurar-se nas janelas
(e as mulheres só no carnaval).
As mulheres preferem olhar os ônibus de outras janelas
e estão sempre buscando alguma coisa
: maçãs, serpentes, vestidos, homens extraviados
os filhos mortos serenamente vivos em suas fotos
até que no jardim nasçam lápides novas
datadas de algum dia sem memória
que a humanidade não quer lembrar
em shows de rock e a ópera da temporada.
Enquanto a criação descobre as alegrias
da science fiction e do cinema desdobrado na platéia
o mais é pasto até o fim dos tempos
em cada porta do imenso casarão
onde habitam os que até agora conseguiram escapar.