O vento foi embora
depois de passar pelo mar
e estourar em ondas altas como edifícios.
As colunas de nuvens se dissiparam
a lua agora segue um itinerário seguro e sensato
e as pessoas vêm ver os estragos da ressaca nas calçadas
peixes jogados nas sarjetas de mistura com papéis
pedaços de madeira restos molhados de lixo.
A ordem é aproveitar o domingo
entrar nas filas dos cinemas e teatros
no trânsito pontilhado de vozes de comando e injúria.
O céu ficou transparente
e todas as constelações estão visíveis
mas ninguém as vê.
Seria uma pena perder tantos espetáculos
e para isso é preciso ser rápido como um predador diante da presa
cumprindo o ritual
para que se possa dizer alguma coisa na hora do almoço
ou nos contatos casuais durante a semana.
Cinemas, teatros, restaurantes
bares, boates e botequins da moda
bilheterias e caixas
recolhem entradas e contas.
A cidade bebe mais que come nos fins de semana
com um desejo que se estende pelos sete dias
até que a segunda de novo faça esmorecer os apetites
e cada um fique um pouco enfastiado
de comentar os melhores programas
e exibir sua felicidade.