Há muito não acontecia,
não é a insônia que conheço
é só o apelo da noite que me chama
ao contato frio da esquadria
entre o aconchego do quarto
e a doçura dessa escuridão
entre o terno e o imponderável.
O universo inicia sua música
diante dos muitos olhos lá do alto.
Há muito não precisava desses olhos
sua luz fosca
sobre a ironia dos grilos orquestrados
no jardim.
O céu não é azul.
O dia teve seus gumes
e há esses momentos.
quando nada se move
nada parece ter vida
além do allegro da água
do outro lado da rua.
Hoje choveu e há cupins sob as lâmpadas
onde a escuridão se dissolve
intercalada ao mundo equivocado,
furando a treva sem freio
na expectativa dos instantes
pairando sobre os túmulos
dispersos pelo mar.
São muitas as moradas deste mundo
e variadas as vozes que a manhã
vai acender daqui a pouco.
Enquanto a escuridão se move
maltrapilha
mergulho em tudo que existe
mas não vejo,
ouço canções inaudíveis
na tentativa de entender
por que aqui é dezembro
e tantas coisas pequenas
nos ocupam.