quarta-feira, fevereiro 15, 2012

As águas


Do quarto andar
acompanho notícias
águas que vêm e vão
para bem longe
pelo útero escuro da rua.
O que cabe em minha agenda
é um esqueleto falso
fabricado às pressas
num dia sem pauta
cheio das linhas tortas
por onde ninguém
terá a coragem de dizer
que Deus escreve (direito?)
o adverso.
Alguma espécie de entendimento
deve ser possível
mas os bueiros engoliram
tanta coisa
além de um embrião
e um caderno de capa cinza-pérola
– um organismo vivo é outra coisa.
Meus sensores rugem à passagem
de relâmpagos retardatários
luz do rompimento
no limite de onde a treva desenha
o outro lado da rua
e me chama para longe
da cumplicidade das máquinas.

Lá se encontrará um canto secreto

um lugar que com certeza
existe

e se deseja 
durante a vida inteira.


6 comentários:

césar disse...

Imaginação e poesia são irmãs gêmeas idênticas, Dade. Isso é uma ótima notícia.

Beijos.

mfc disse...

Um lugar que incessantemente procuramos!
Precisamos desse sossego neste desassossego!

Camilla disse...

Há de existir esse lugar, nem que seja por alguns momentos.
Bjs.

Helenice Priedols disse...

Os poetas são os primeiros a sentir os desconfortos.

Abraços.

PAZ e LUZ

Anônimo disse...

Lindi, lindo, Dade!

O útero escuro da rua é uma metáfora que por si já vale o texto inteiro!

Quanto aos lugares, certa vez aprendi que nós os criamos...

Beijo, poetisa!

Unknown disse...

ainda estou me banhando n'As águas, belo


beijo