3
Havia já muitos meses
vivia só
numa cidade
onde não tinha nascido
sentindo o corpo vazio
passando as noites acesa
transparente fantasminha
olhando a televisão.
Em um programa
desoras avançadas
descobriu alguém falante
que a fez sorrir de esperança
– o doutor da salvação.
E de manhã
muito cedo
olhos inchados
vermelhos
tomou o caminho da cura
ou o que assim lhe parecia.
Pouco mais de meia hora
e descobriu
de moto próprio
no doutor
um charlatão.
Voltando desanimada
a outro dia vazio
dormiu no trem do metrô.
Abriu os olhos
desassistida
sem perceber
por que acordava
e estremeceu
de uma ternura
em algum incerto
lugar do corpo.
À sua frente
não era estranho
aquele estranho.
Dele chegava uma vida
uma alegria desavisada
mas confirmada
quando trocaram duas palavras
desceram juntos da estação
e juntos se aperceberam
de tudo que os esperava.
9 comentários:
Ai que lindo, Dade!
Entrei no poema, como entro nos filmes que gosto.
Espetacular!
Beijos
Mirze
"e juntos se aperceberam
de tudo que os esperava"
Os finais são sempre ótimos, assim como o conjunto!
Beijos
...Ficção 3 está perfeito!
Desfecho espetacular...
Beijinho!
De tocar o coração da gente, Dade.
Beijo.
às vezes basta tão pouco para se descortinar a existência,
beijo
Um romance completo...
Beijos do Ivan
Bem ficcional, mas bem feito. Gostei.
É sempre assim!
Noite cerrada... e de súbito o sol nasce de novo!
alegoria da vida, querida dade:
de apeadeiro em apeadeiro, com solavancos, empurrões e quedas de permeio, a certeza de que toda a viagem há de conduzir a qualquer lugar, com os passos alinhados.
beijinho!
Postar um comentário