quarta-feira, julho 04, 2012

Voo



Alta rapina de outono
em voo exato,
a morte cobriu a paisagem
e foi como uma ânsia de resgate
o gesto com que lembramos
nossos pequenos nadas.
A morte passou como uma nuvem
dessas que vêm depois do almoço
na hora mais indefesa e tépida do dia.
Ainda encontrou os pratos sobre a mesa
e a casa em desalinho
de quem não espera visitas.
Ensombreceu a tarde
e pôs em nossas mãos
um velho álbum de fotos amareladas
cravou em nossos peitos
as dores de outro tempo
fez ressoar na garganta
a tradição de sonhos malogrados
e o atavismo das culpas
que deixaremos de herança
a nossos filhos.
A morte nos sorriu
como quem se desculpa por ser inevitável
e longamente procurou em nossos rostos
angústias suas.
A morte é tão sozinha
nua e sábia
como a encontraram Adão e Eva
na árvore da vida.

5 comentários:

césar disse...

Essa passagem me lembra tantas coisas! Um dia me aconteceram coisas bem parecidas. Mas depois a vida segue...

Beijo, Dade.

Ivan disse...

Arrasador, Dade.
E verdadeiro.

Beijos do Ivan.

João A. Quadrado disse...

[como o sopro,

vento breve por onde passa a eternidade.]

um imenso abraço, Amiga Dade

Leonardo B.

Jorge Pimenta disse...

anteontem assisti a uma peça de teatro minimalista com frases e ditos tão singelos, alguns dos quais por isso mesmo fizeram morada na minha cabeça. um deles: a vida é boa porque sem ela estaríamos mortos :)

beijinho, dade!

Cris de Souza disse...

Eis um poema fatal!