Alta rapina de outono
em voo exato,
a morte cobriu a paisagem
e foi como uma ânsia de resgate
o gesto com que lembramos
nossos pequenos nadas.
A morte passou como uma nuvem
dessas que vêm depois do almoço
na hora mais indefesa e tépida do dia.
Ainda encontrou os pratos sobre a mesa
e a casa em desalinho
de quem não espera visitas.
Ensombreceu a tarde
e pôs em nossas mãos
um velho álbum de fotos amareladas
cravou em nossos peitos
as dores de outro tempo
fez ressoar na garganta
a tradição de sonhos malogrados
e o atavismo das culpas
que deixaremos de herança
a nossos filhos.
A morte nos sorriu
como quem se desculpa por ser inevitável
e longamente procurou em nossos rostos
angústias suas.
A morte é tão sozinha
nua e sábia
como a encontraram Adão e Eva
na árvore da vida.
5 comentários:
Essa passagem me lembra tantas coisas! Um dia me aconteceram coisas bem parecidas. Mas depois a vida segue...
Beijo, Dade.
Arrasador, Dade.
E verdadeiro.
Beijos do Ivan.
[como o sopro,
vento breve por onde passa a eternidade.]
um imenso abraço, Amiga Dade
Leonardo B.
anteontem assisti a uma peça de teatro minimalista com frases e ditos tão singelos, alguns dos quais por isso mesmo fizeram morada na minha cabeça. um deles: a vida é boa porque sem ela estaríamos mortos :)
beijinho, dade!
Eis um poema fatal!
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