Me assusto com minha idade.
Percorro uma floresta de pinheiros
acolchoada de agulhas verde-escuras
de onde se erguem em clareiras
gravíssimas imagens
de santos muito velhos
cujos rostos mal vejo
e não entendo.
Me atravessa um suspiro
que volta a me surpreender no auge do sono
e me golpeia todo devaneio.
Me assusto com o irredutível
rumor que chega da morte
e abafa os nomes amados do porão
onde deixei meus brinquedos
tentando salvar a vida.
Me assusta estender as mãos
nessa teimosa resposta
à nenhuma pergunta que me espera.
10 comentários:
[dessa idade se refaz a noção da vida, o instante do tempo que se dista da infância, o mais que ode, para renascer num outro... tempo imenso!]
Como esse abraço, Amiga Dade
Leonardo B.
Nada se iguala à idade em que se vê tudo tão claro.
Beijos do Ivan.
a pergunta que espera, então deixa em lenta espera, aguarda, aguarda
beijo
Tão profundo e belo, Dade! Dos mais intensos que li aqui no Inscrições.
"Suspiro, clareira, sono, devaneio, brinquedos no porão..." Que imagem eu criei!
Beijo, querida!
meus brinquedos estão cada vez mais à flor da pele.
que inteligente poema, Dade!
beijosss
Uma introspecção deliciosa ... feita poema!
Com o passar da idade, pequenos mistérios são resolvidos, e muitos outros são criados, levando-nos para as florestas escuras de nossos pesadelos.
Beijo.
A memória, o tempo...para os quais nem mesmo pergunta existe. Que bonito poema!
Beijos.
Jefferson.
Belíssimo, amiga Dade! Sempre vale a pena vir aqui.
Beijos nossos.
"Onde deixei meus brinquedos tentando salvar a vida". Dade, engoli em seco quando li, nó na garganta...
Eu te admiro demais. Mais que demais.
Bjo
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