segunda-feira, julho 09, 2012

Os brinquedos no porão


Me assusto com minha idade.
Percorro uma floresta de pinheiros
acolchoada de agulhas verde-escuras
de onde se erguem em clareiras
gravíssimas imagens
de santos muito velhos
cujos rostos mal vejo
e não entendo.
Me atravessa um suspiro
que volta a me surpreender no auge do sono
e me golpeia todo devaneio.
Me assusto com o irredutível
rumor que chega da morte
e abafa os nomes amados do porão
onde deixei meus brinquedos
tentando salvar a vida.
Me assusta estender as mãos
nessa teimosa resposta
à nenhuma pergunta que me espera.

10 comentários:

João A. Quadrado disse...

[dessa idade se refaz a noção da vida, o instante do tempo que se dista da infância, o mais que ode, para renascer num outro... tempo imenso!]

Como esse abraço, Amiga Dade

Leonardo B.

Ivan disse...

Nada se iguala à idade em que se vê tudo tão claro.

Beijos do Ivan.

Unknown disse...

a pergunta que espera, então deixa em lenta espera, aguarda, aguarda



beijo

Anônimo disse...

Tão profundo e belo, Dade! Dos mais intensos que li aqui no Inscrições.

"Suspiro, clareira, sono, devaneio, brinquedos no porão..." Que imagem eu criei!

Beijo, querida!

Bípede Falante disse...

meus brinquedos estão cada vez mais à flor da pele.
que inteligente poema, Dade!
beijosss

mfc disse...

Uma introspecção deliciosa ... feita poema!

Anônimo disse...

Com o passar da idade, pequenos mistérios são resolvidos, e muitos outros são criados, levando-nos para as florestas escuras de nossos pesadelos.

Beijo.

Jefferson Bessa disse...

A memória, o tempo...para os quais nem mesmo pergunta existe. Que bonito poema!
Beijos.
Jefferson.

Enylton disse...

Belíssimo, amiga Dade! Sempre vale a pena vir aqui.

Beijos nossos.

Daniela Delias disse...

"Onde deixei meus brinquedos tentando salvar a vida". Dade, engoli em seco quando li, nó na garganta...

Eu te admiro demais. Mais que demais.

Bjo