sexta-feira, novembro 02, 2012

Moradas




Há muito não acontecia,
não é a insônia que conheço
é só o apelo da noite que me chama
ao contato frio da esquadria
entre o aconchego do quarto
e a doçura dessa escuridão
entre o terno e o imponderável.

O universo inicia sua música inaudível
diante dos muitos olhos lá do alto.
Há muito não precisava desses olhos
sua luz fosca
sobre a ironia dos grilos orquestrados
no jardim.

O céu não é azul.
O dia teve seus gumes
e há esses momentos.
quando nada se move
nada parece ter vida
além do allegro da água
do outro lado da rua.

Hoje choveu e há cupins sob as lâmpadas
onde a escuridão se dissolve
intercalada ao mundo equivocado,
furando a treva sem freio
na expectativa dos instantes
pairando sobre os túmulos dispersos pelo mar.

São muitas as moradas deste mundo
e variadas as vozes que a manhã
vai acender daqui a pouco.
Enquanto a escuridão se move
mergulho em tudo que existe
mas não vejo,
ouço canções inaudíveis
na tentativa de entender
por que aqui é setembro
e tantas coisas pequenas
nos ocupam.

11 comentários:

R. Vieira disse...

Intensas moradas!!
"Ainda é setembro..." Voei nestes versos!!!

Ivan disse...

Um poema tão lindo, nem sei como classificar isso. Mas uma delícia de ler...
Beijos do Ivan.

Márcia disse...

Sua poesia é intensa e rica, Dade!
Beijos!

césar disse...

São versos de voar - intensos e belos como você sabe fazer!
Beijos.

Fred Caju disse...

Bem, intenso, Dade. Gostei mesmo.

Anônimo disse...

Belo poema, Dade, desses que narram a deserção dos dias.

Beijo.

Daniela Delias disse...

Grilos orquestrados no jardim. Que imagem fantástica, linda...

Bjo, poetinha que adoro.

Teté M. Jorge disse...

Completo... repleto... intenso!!!!

Feliz semana.
Beijo e uma flor, com carinho.

Tamires disse...

Muuito bom, PARABÉNS!

Bípede Falante disse...

Nessas pequenas coisas feitas de imensidão, dormimos e acordamos em um dolorido despertar nem sempre perceptível mas muito muito eficaz.

beijoss :)

Tania regina Contreiras disse...

Dade, teus poemas são maravilhosos; mas este me pegou fortemente; me disse tanto; lembrou-me a minha face no espelho da noite, meu aconchego no útero da escuridão.

Belo!
Beijos,