domingo, junho 24, 2007

Babel



Às margens do asfalto
os edifícios desenham a vida
como se fossem os ossos da cidade.

Tanta gente indo e vindo
e os pensamentos são linhas de cerol
enquanto os mutilados misturam
os passos.

A quem pode importar
o que se sente
e o que expressam
esses rostos velozes de
fotogramas em preto-e-branco?

Ninguém conhece
as línguas que falamos
se mais que exíguo
o tempo nos confronta
nesses momentos incivis
perdidos em Babel.

sexta-feira, junho 22, 2007

Canção ao pai

Pai,
hoje pela manhã eu te encontrei bem jovem
olhando para mim da capa de um disco de Tom Waits.
Por que não me disseste
há mais tempo?

Daquelas tuas histórias
das longas noites de angústia que viveste
e me legaste
– soturno, a voz um eco escuro –
por que não me falaste?
Estavas nessa capa
e eras outro.
Estavas nessa capa
e me sorrias
como em notícia de jornal antigo.

Te procurei, meu pai,
depois de morto
para saber o rumo de tua vida
ao peso de tantos anos de tristeza
e os dias que perdeste nesse exílio
em que te aprisionaram, asas cortadas,
vivendo um outro em outro nome dado.

Por que não me contaste, pai,
o que soube tão tarde
– por que só te encontrei
depois que emudeceu
a tua voz?

quinta-feira, junho 21, 2007

Legado




Flores e voos da manhã
respondem minha questão.

Fui perdulária sem fim
e tudo que era meu restou perdido
: guardei lembranças e sonhos
friáveis como pétalas e asas.

terça-feira, junho 19, 2007

Exemplar


Léon-Jean Perrault. Uma história interessante.

Tenho nas mãos
um exemplar cheio de sangue
sob a pele.

O que o corpo procura
tão fundo em outro corpo?
Palavras curativas?

Melhor assim
a natureza nos deu um par de olhos
para enxergar os limites do contorno
e a isso chamamos vida.

domingo, junho 17, 2007

Sétimo dia

Sétimo dia
domingo
sol sem brilho.

De tudo que foi desfeito
de tudo que foi pisado
nada que faça sentido.

Infinitivo
o tempo nos vira as costas
e tudo vira passado.

sábado, junho 16, 2007

...


De noite
pardas desilusões
semeiam gatos cegos.

sexta-feira, junho 15, 2007

Condomínio


Foto Elliot Erwitt

O hálito
não te pertence
: perfume destinado
desde sempre
a quem te colhe
pétalas na pele.

quinta-feira, junho 14, 2007

Ceia

No calor do sangue
o brilho traiçoeiro dos rubis
vinho de nossa ceia.

segunda-feira, junho 11, 2007

Perspectiva




Vidro e madeira a meu redor
Veneza reluzindo na memória
e um poema dormindo sobre a mesa.

Se alguém ligar
pode dizer que nunca mais eu volto.

domingo, junho 10, 2007

Exílio


Foto Boris Kossoy.


Da estação deserta desse dia
uma viagem de trem pelo desvio
seguiu sem sonhos a bordo
rumo a uma terra nublada
de onde nunca voltaria
da longa manhã no exílio.

sexta-feira, junho 08, 2007

Espelho

Alguma coisa insegura
paira suspensa
no abismo
cisma no rosto.

O tempo passa
a máscara vincada
se altera
em aura e brinca

no corpo
nos cabelos
ora incerta.

Nos espelho
o antigo apelo
mostra o avesso.

quinta-feira, junho 07, 2007

Poliedro


anton peticov. the inner look.

Do jogo articulado no começo
resta pouco
:
a curva menos firme
fios ainda dourados no cabelo
no braço esquerdo
o sinal.

Células novas
de antigo desencanto
e as fotos
os espelhos.

terça-feira, junho 05, 2007

Salto no escuro ao sol


Pablo Picasso. Françoise Gilot.


A sensação de segredo da
semente ainda fechada
algum desejo sem nome
rua quieta na manhã
cidade em férias.
Caminhar sentindo
o sol
ainda morno
o melhor do verão
não o melhor
da vida.

Melhor talvez
ceder um pouco mais
ao outro lado
sentir-se menos responsável
menos ferido
mais liberto.
Ver em qualquer lugar
uma isenção
e conviver com a rotina
o desencanto
as lembranças.

Ter que existir
corola
que teima em não fechar e
fica recebendo o mundo
no coração.

segunda-feira, junho 04, 2007

Vento

O vento percorreu a tarde inteira
cortinas agitadas
jogou ao mar ligeiros lenços brancos
e mutações na areia.

Se o vento revogasse as leis mesquinhas
as frases feitas, juízos e conceitos
com que tecemos nossos disfarces
meias-verdades mentiras

o mundo mudaria sua face
e o sol talvez nascesse em plena noite
para mostrar o mal que o vento leva.

As ilusões, as crenças e disfarces
perderiam seus açoites
e o amor teria enfim vencido a treva.

domingo, junho 03, 2007

Timidez



Escondo-me nos dias
como entre nuvens
espumas
para assistir a vida
atenuada.

sábado, junho 02, 2007

Incidência

Em meu tempo de criança
achava que a realidade
era uma caixa de ruge
cheirando a royal briar.

Em meu tempo de criança
não havia realidade.

Muito mais tarde aprendi
a realidade é nuvem sobre um rio.
A realidade chora sobre o rio.

Quem será essa senhora?

quinta-feira, maio 31, 2007

Notícia


Edvard Munch. Mãe morta.

Vou aos pedaços
no limiar da fuga
para onde continuo sem saber.

Aprendo agora o que teus olhos dizem
a contemplar o que não posso ver.
Teus olhos se perderam noutro tempo.

Mãe
a morte te transcende e me transcende
mas não te apaga.
A morte é o fim de todos os presságios
uma armadilha
a morte é uma aranha em sua teia.

Mãe
a morte vigilante aos poucos enredou
a tua irmã que mais amou a vida.

terça-feira, maio 29, 2007

Trama

A história foi tramada
em cores e desalinhos
canções cruzadas
e passos
companheiros.

O amor cortado aos pedaços
é amor para sempre inteiro.

domingo, maio 27, 2007

Marinha


René Magritte. La grande famille.

Às vezes o mar dorme
a prensa do silêncio
guardada nos abismos.

Limiar



Te amo e te perder é o que mais temo
mas não suporto mais viver sonhando
e não saber se vivo ou se deliro
ou se é real o que no entanto espero.
Temo perder o amor que nunca tive
ou o amor que tenho sem saber ao certo.
Temo o olhar que vem desses seus olhos
e a falta desse olhar me desepera.
Já não sei mesmo se vivo ou se te espero
se sou a tua escrava ou uma princesa
se o amor que sinto é vida ou é demência.
Já nem sei mais dizer o que mais quero:
se é ficar e morrer dessa tristeza
ou ir embora e morrer de tua ausência.

sexta-feira, maio 25, 2007

Negligências


Palavras têm vida própria
brotadas dos vãos do dia
ou de uma vida feroz
que vem de dentro.

Independentes
visitam nossa boca
repetem negligências.

Às vezes nos escapam
voam sem rumo
pela voz do vento.

quarta-feira, maio 23, 2007

Filme

Um eco de juventude toca a terra
sereias olham a praia

Sereno o mar acolhe a mesma lua
e mansamente canta a madrepérola
os sons do céu trazidos pelas conchas
canções de areia e espuma
e as faces da paixão que o luar
oblíquo
prolonga além de todas as idades.

No escuro do cinema
tudo é de novo como antigamente.

segunda-feira, maio 21, 2007

Ouro Preto




Uma demência rasa
sorrateira
frutificando em cada vão de porta
cortou bem rente todas as certezas
e do passado restaram
balcões e alguns fantasmas.

Em cada rua relógios
sem ponteiros
pássaro tonto de tempo nos telhados
e o calendário esparso nas calçadas
procissões
vozes de amores findos
subindo dos bueiros.

domingo, maio 20, 2007

Quimera


Louis Anquetin. A avenida Clichy às cinco da tarde.

No relógio da sala
uma quimera antiga
escala as horas.

sábado, maio 19, 2007

Janela III



O dia surge em torrões
luz do oriente.
As horas se desdobram em véus
abelhas
cores florescem.

E quando a noite inaugura
a imensa catedral de uma janela
três estrelas recortadas
papel prata e purpurina
se derramam pela sala.

À luz da lua
desassisado o rio desatina
e canta
como se fosse o mar.

sexta-feira, maio 18, 2007

Vernissage


E. Munch. Blossom of pain.

Desejos desenharam
imagens na lembrança.
Arqueologia de rastros
os retratos.

Desfeita a perspectiva
adiar a vida
em paralelas atiradas longe
ao tempo.

quinta-feira, maio 17, 2007

Hoje



Hoje não quero nada do que tenho
hoje não quero
senão o impossível.

Hoje é o combate das sombras
a discussão sem rumo
o indiscernível.


terça-feira, maio 15, 2007

Cidade


Foto C. Costa

Um ônibus ronrona
aço irritado
entre ruídos sem nome.

De uma janela
a esperança espia e se recolhe.

O céu toldado resume
as ameaças do mundo
nos galhos da amendoeira.

Alheio a tudo o menino
pedala para bem longe
uma canção de infância
e salvação.

segunda-feira, maio 14, 2007

Testemunha



Quando você sai
e o retrato da mesinha
alonga o olhar de paz
à mão com que aceno da janela
percebe com certeza
antes de nós
a transfiguração da tarde
e o blues que se insinua pela sala.

Esse retrato
conhece
a perfeição sem palavras
o inominado
o estado puro do amor
como um rosa perfeita
despetala.

sábado, maio 12, 2007

Destudo



Em meu jardim imaginário e frio
o imenso templo sem deus
ficou vazio.

O olhar não segue mais
vulto nenhum
e os planos de viagem
versam agora mapas
de miragens.

quarta-feira, maio 09, 2007

Retratos




Lembra o vestido de linho
daquele dia
sozinhos na varanda?
Lembra da luz
última luz da tarde
dom do estio
sobre o tapete da sala?

Lembra a manhã daquele outono frio
o vento pela praia
nossas festas
noites de junho
os dias de Veneza?

Lembra a música das conchas
o horizonte
as frases do segredo
a delícia da pele
– lembra?

Lembra que a vida
inda floresce à tarde na varanda
e enche de asas o ar que respiramos.
Nosso desejo é como um andarilho
que nada sabe do tempo
e nunca esquece.

terça-feira, maio 08, 2007

Outono

Fez hoje uma tarde frágil
clandestina
pelo ar
a luz do outono
úmida e leve.

Me debrucei no muro
pensei colinas
azuis
e a mim me devolvi
de mim lembrada.

segunda-feira, maio 07, 2007

Gaivota


Rui Elias. Rota de colisão.

Voando ao vento
sabe seu rumo
inscrito em cada pena.

domingo, maio 06, 2007

Vitral



A compoteira que foi de vovó
já não existe
: agora é cacos azuis.
Minha tia predileta
que me ensinou tanta história
de repente me faltou.
Meu primeiro namorado
casou e sumiu no mundo
e me casei com o segundo.

Perdi as cores mais vivas
o colo quente e as cantigas
e nunca mais vou ser virgem.

O que se perde em história
vira vitral na memória
o saldo da vida inteira
vale mais que a compoteira
a ternura que se sente
ensina que o amor existe
e já dizia Vinicius
docemente
: é melhor ser alegre
que ser triste.

sábado, maio 05, 2007

Manhã de inverno



O que te falta
impele
motivos novos
faces desconhecidas
e tudo te enamora.

O que não foi
ilumina teus caminhos.
O amor que não deu certo
e já não sangra
alimenta a vida que te espera.

A vida que te espera
além da porta
será agora
a mais bela manhã de inverno ao sol.

sexta-feira, maio 04, 2007

Das dores


E. Schiele. 1918.


Doem as previsões
o inacabado
e o cortejo dos sonhos sem futuro.
Doem medos persistentes
e a solidão
minha gêmea.

Doem os chamados que não escutei.

Dói como raiz desenterrada
todo poder injusto
na servidão dos motivos.

Doem as interdições sem rosto
lobotomia incruenta do desejo.

quinta-feira, maio 03, 2007

Prisma




Medula, sangue e alento
o teu momento irisa meus sentidos.

Serei se tu quiseres
tua véspera
um exercício de anjo
e a terra onde cravar tua raiz.

quarta-feira, maio 02, 2007

Finito


E. Munch.

Perto de um cais noturno, treva espessa,
conto as estrelas sozinhas e me esqueço
de quanto sou também sozinha e triste
desde semanas atrás, quando partiste.

Conto as estrelas caladas e o silêncio
contém a escuridão e é como incenso
subindo em homenagem aos que sofrem
cantando um mudo canto sem estrofes.

E nesse cais escuro debruçada
olho o balanço sem fim da água apagada
pensando vagamente no romance,

jogo finito no primeiro lance,
que foi como uma trova ou uma chance
de renovar a vida e deu em nada.

domingo, abril 29, 2007

Violetas


Lá fora chove
e nada do que digo
é o que queria dizer.

Estou imóvel
e tenho a pressa de uma presa
ante o felino
eternamente a preparar
o bote sem desejo
e a agonia poreja das paredes.

Asas coladas
voltamos ao casulo
viscosos seres
unidos no tormento
de um momento que não vai voltar.

Além dessas janelas
a vida comemora seus enigmas
quatro estações e luas
e o vento vibra
por suas ruas e praças.

Em nosso espaço
somos peso de carne no açougue
sem mais surpresas
repete-se o que não houve
e nos reflete
em duas dimensões
– silêncio e chuva.

Apodrecemos como violetas
o caule a desfazer-se.

sábado, abril 28, 2007

Dia




Tortuosamente belo
o dia partido ao meio.
Metade sol
outra lua.
Metade daquele dia
tortuosamente belo
foi amor
outra
amargura.

sexta-feira, abril 27, 2007

Pipoca

A gente era um contraste
vermelho vivo
no cinza dos asfaltos
lilases lusco-fuscos
todas as nostalgias do néon.

A gente se entornava pela rua
e transbordava alegria

um destempero solto na avenida
na mão
um saco de pipocas.

quarta-feira, abril 25, 2007

Madrugada



Te conheci bem antes dessa manhã
quando te inventei
te trago há tanto tempo!
A tua identidade é um pouco a minha,
teu pensamento deita em meu repouso.

Te conheci bem antes
e te reconhecer
é como andar de madrugada pelo campo.

segunda-feira, abril 23, 2007

Joana


Foto Charles Scheiner.

É tarde.
Desencontrei-me dos outros
dos amigos
– tanta amizade desfeita pela estrada
e logo comprei roupas novas
mudei de casa, tive filhos
e viajei pelo mundo
sem nunca mais ouvir suas vozes.

Talvez seja tarde agora.

Mas penso em tantas faces
tantos nomes
e esta noite mesmo sonhei com a Joana
que há dez anos perdi de vista
: falava ao telefone
aquele mesmo jeito manso que lhe conheci
fitando o chão distraída.

Era ainda a mesma Joana
tímida, ingênua, contida e delicada

– e pensar que sempre vemos tanto os outros
sob suspeitas as mais variadas!

Joana continua
a existir dentro de cada um
até de mim
que muito bem conheço minha malícia.

quarta-feira, abril 18, 2007

Agenda

Convivo com o futuro
juntando meus pedaços dispersados
por um espaço que brinca de tempo.
Aa folha branca-cega não me avisa
das armadilhas
dos rostos
do brinco que usarei na quinta-feira
nem do vazio à espera.

Jogo com minha trena desmarcada
medindo o imensurável
dos desejos.

O vir-a-ser
o reencontro
o medo
e os impulsos se escondem
e escorrem sem retorno
de minha agenda encapada
de esperança preta.

domingo, abril 15, 2007

Intenções


Pablo Picasso.

À mesa do café
gestos de recomeço nos enganam
: só intenções povoam nossas horas.

sábado, abril 14, 2007

Palavras são legendas que é preciso ler




A nossa volta
transitam as palavras
e muitas delas
dizem muito
do que ainda
não soubemos aprender.

O mundo chega estampado
em rostos livros e
jornais
juízos desencontrados
memórias
e esquecimentos.

Faltam as legendas
como nos filmes da tevê.

quinta-feira, abril 12, 2007

Vozes



Ouço uma estrelaa cantar
em alguma ilha deserta
que vagamente destila
sua luz gregoriana.

Ouço uma estrela cigana
que se desfaz quando brilha e
deixa um rastro cadente.

Escuto uma estrela insone.

A voz sirena de longe
ilumina displicente
vesperais monges rezando
no claustro de seu convento.

Amena canta essa estrela
modulando a voz do vento.

quarta-feira, abril 11, 2007

Maio



Se sou feliz
dispenso o calendário
se for preciso
reinvento maio.

terça-feira, abril 10, 2007

Escolha


Imagem Egon Schiele.

Caminho descuidada
entre teus gestos.
Por teu amor cheguei
além de meus limites
e me esvaí de mim.
Tenho vivido além
de todas as instâncias
bem mais do que
a vida pode oferecer.
E quando me procuro
já não sou eu
mas essa face
plasmada pela escolha.

Esmorecer


Desenho Robert McIntosh.

A cada passo
a estrada se transforma
entorno áspero
despenhadeiro.

Quero sorrir contigo
e entristeço
e o ia te dizer
me silencia.

domingo, abril 08, 2007

Vida breve

Para Li.


Foto Ciekawezdjecie.

A vida seca nas cerejeiras
em ásperas ausências.

A morte é bruta e
nunca se despede
– toma o que é seu
e parte
saciada.

sábado, abril 07, 2007

Tarde II



A tarde frutifica
dispersa em vôos rasos
e paira mansa a contemplar a praia
:
a tarde é hoje o
pensamento de um deus em férias.

Templo


Da Vinci. La dama scarpigliata.

Aqui
tão perto e tão longe
aqui me perco da vida
nessa mudez de mármores e bronzes.

À luz distante dos vitrais me reencontro
revejo minhas grades contorcidas
e os desenhos inúteis de meu chão.

Aqui passeio
e reconheço meus desvãos escuros
detalhes e arabescos
minha poeira estéril
e repousante.

quinta-feira, abril 05, 2007

Raízes


Henri Matisse.

Voando a bordo do vento
alçam vida provisória
papéis alados
notícias
ilusões e
garantias
cartas rasgadas e folhas
intenções
e regalias.

Voam véus
cortinas
sonhos
e aves tontas na vidraça.

No chão
expostas
revoltas
raízes de meu alento.

quarta-feira, abril 04, 2007

Salmo


Ruth Bernhard. ShellingSilk.

Não foram claros
os jardins da manhã
antes de tua chegada
nem o meio-dia
brilhava
luminoso.

Antes de vir
teceste o céu da tarde
para estender
noturna
nossa rede de prazeres.

terça-feira, abril 03, 2007

Multipalavra





Uma palavra acesa
queimando a um sol pequeno
desorbitada e só
vaga no vento
diamante feito pó.

Areias do deserto
semas perdidos
tontos
desdobrados
em repetidos temas
delirantes
rasuras no poema
palimpsesto.

segunda-feira, abril 02, 2007

Cotidiano


Henri Matisse.


Seria talvez a tarde morna
por sobre a pele quieta
ou simplesmente
uma suave vontade de carinho?
Seria essa distância indesejada
ou nada disso
– apenas a constância
a incessante, intensa
a persistente instância do desejo
que se disfarça oculta
fantasia
e todo dia
mutante
se anuncia
nessa lembrança viva de teu beijo?