domingo, fevereiro 11, 2007

só consegui dizer
confusamente
amor

ainda cedo
antes que a mesa posta do café
se desfizesse
alguém chegou

alguém estava de pé junto à varanda
e tive então certeza
ainda sem ver
sabia

alguém dizia meu nome
com doçura
e a voz era ainda estranha
a que dizia

te conhecia de longe
de palavras
- e tanto são mensageiras as palavras
e tanto dizem
quando se sabe lê-las

e esse alguém que me chamava o nome
chamava-se também de um nome antigo
chamava-se também do nome novo
que aprendi a adorar sem tê-lo visto

entra, pensei,
e logo que te abria
a porta de minha sala
abria minha porta
à novidade sem nome que anelava
e desejava tanto
e não sabia

olhei essa pessoa num tumulto
num alvoroço de amor inominado

olhei e abri meus braços
e meu peito
e a boca com que sorria
e respondia
ao beijo de sua boca me sorrindo
e ao pranto com que a paixão
se anuncia

olhei e vi essa figura e a luz
que entraram juntas pela minha sala
e juntas me envolveram e me tiveram
a seu serviço desde então
a luz que ela irradia
a luz que enfim me colhe em sua trama

não consegui dizer o que sentia
só consegui dizer
confusamente
amor
fica comigo

Um comentário:

Esther Lucio Bittencourt disse...

adelaide, amei a composição de imagens que transcenderam as palavras para tornarem-se pictóricas. acho querida que os poetas , músicos, os que criam precisam nos revelar nossa humanidade perdida.

senti a manhã e o sabor de café da acordando a boca. grande poema!