Atiraram-se dos andares em chamas.
Um, dois, ainda alguns,
mais acima, mais abaixo.
A fotografia deteve-os na vida,
preservou-os
sobre a terra rumo à terra.
Cada um ainda na íntegra,
com rosto individual
e sangue bem guardado.
Ainda há tempo
para os cabelos esvoaçarem
e do bolso caírem
chaves e alguns trocos.
Ainda estão ao alcance do ar,
no âmbito dos lugares
que acabaram de se abrir.
Só duas coisas posso por eles fazer:
descrever este voo
e não acrescentar a última frase.
WISLAWA SZYMBORSKA
(de Instante, tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio Neves, Relógio d'Água, 2006)
8 comentários:
OI Dade,
uma triste realidade retratada em versos... Bj,
Úrsula
Olá, Dade,
Um poema bonito e difícil, porque é difícil fazer poesia do óbvio sem ser óbvio.
Um abraço,
JR.
Belo e chocante...
Dói imaginar o que imaginaram nos segundos que se eternizaram antes do choque... dói imaginar, nos colocar nos seus lugares... e inda assim é bom saber que a dor do outro nos dói no enlace do drama humano que nos aloca em mesma rede, em mesma teia, ligados invariavelmente pelo mesmo destino...
Abraço, dade!
11 de setembro, o dia que o mundo ruiu e as ruínas ainda estão espalhadas,
beijo
Triste, mas é preciso doer também em nós para que não se apague da memória.
bjs
Dade!
Isto é o sabor da poesia, que circunda a tragédia e propõe um olhar na vida. Não poderia mesmo haver um final.
Lindo!
Beijos
Mirze
Li e releio agora; uma beleza o poema;
bjs El
Dade,
Forte, belo e muito triste este poema. A gente lembra uma data marcada por tantas tragédias.
Beijos e uma boa semana para nós,
Carol
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