domingo, janeiro 24, 2010

Boneca


Imagem Henri Cartier-Bresson.


Dentro da velha casa de bonecas
minha predileta
desconjuntada
braços de pano pendentes
cara de nada absoluto.

Bobagem ou contradição em termos
não pode ser o nada absoluto se ainda é uma boneca
mesmo quase desfeita
mas penso
parte dela virou pó
não é mais a boneca que foi
porque começa a navegar no nada.

Triste e um pouco assustada
olho o espelhinho da casa e percebo
o nada absoluto em meu rosto
também.

10 comentários:

J.R. Lima disse...

e cada vez mais, navegamos no nada...

um abraço.

Fabio Rocha disse...

tudo é tudo e nada e nada... já dizia Tim Maia. ;)

Amélia disse...

Tão bonito, Adelaide!
Eu já não tenho nenhuma das minhas bonecas -também não tive muitas- uma. lembro-me bem dela, chamava-se Rosa - chá; era de porcelana...tive outras de trapos...Peluches tive o meu 1ºurso aos 24 anos e ainda o tenho.É o meu Joanica-Puff...
Vou ver se encontro um texto de Almada Negreiros que mete bonecas, também, se encontrar, darei a conhecer. Abraço

Amélia disse...

Um dia destes vou colocar A verdade-o tal texto de Almada Negreiros no meu blogue- e servir-me-ei da foto deste seu post.Beijo

Marcelo Amorim disse...

Hoje passei aqui só pra ouvir as músicas do seu blog ;-) beijo

nilson disse...

bela canção!

nydia bonetti disse...

Tive só uma boneca, Dade. Há tanto tempo virou pó. Destes que brilham nas frestas das janelas, sob a luz do sol... beijos.

Carla disse...

o nada absoluto guarda o mistério da criação das coisas... de todas as coisas... mas ele dói.

Marcelo Amorim disse...

Dade, comentei aqui no post "boneca" e também no "passado com passas". Beijo

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Magnífico poema, Adelaide!!! Se a boneca de pano nos lembra, tanto quanto o espelho, que também viraremos pó, podemos crer que, de certo modo, nem o pó é nada, pois neste nada somos poeira cósmica, memória, traços, afeição infinda... Beijos alados!