Tudo estava tão triste na sala e na varanda e os pássaros da rua tão calados, imaginava por quê, sem ter ideia do que estaria por vir dali em diante todas as tardes à hora em que não chegaria ninguém, como em todas as horas agora acontecia, e as distâncias pareciam maiores, salas de espera mais desoladas que de costume e as pessoas impenetráveis e secas como passas velhas, não importa a idade que pudessem ter ou que razões carregassem nas mochilas.
Tudo jazia a vida mecanizada e o dia-a-dia monótono, por causa do horizonte fechado a poucos metros de distância de seus olhos, e dos relógios que os homens nunca deixam de fabricar para ninguém, sem acontecimentos ou vozes nem olhares que abrissem outra visão impossível de iluminar, em uma casa tão pragmática e bem equipada para viver espantando as lembranças e satisfazendo desejos sozinhos que as traziam de volta sem calor nem voz.
Lembranças são partituras feitas para nenhum instrumento.
5 comentários:
« ... sem ter ideia do que estaria por vir dali em diante todas as tardes à hora em que não chegaria ...»
triste quando já só ouvimos ao longe o som de uma partitura antiga que nenhum instrumento toca...
Muito bonito este texto, Adelaide.Boa noite.
algumas nos tocam.
As vezes eu me questiono para que servem certas lembranças. Se a melancolia enfraquece, porque insistimos em melodias tão tristes, não é?
Abraços
Muito, muito, muito bonito isso!
tudo muito bonito por aqui... esse texto, todo o blog... quanta delicadeza...
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