sexta-feira, abril 23, 2010

Mesa posta

Alguma coisa se aflige
no ato mero de estender a toalha
sobre a mesa.

Essa desordem
transtorna o mundo em montanhas
atinge a várzea
e triste se contempla
até que o céu se desdobre
azul
(o azul é uma canção desatada
que existe mas não canta).

Os pratos postos embora
alguma coisa exista
que nunca se completa
:
alguma coisa é fuga
e implora
sem conseguir o exato
a imagem submersa
extrema de cansaço
e a descoberta
do que sempre existiu
tumultuado e mudo
e falha
à mesa posta.

8 comentários:

J.F. de Souza disse...

tem sempre alguma coisa...

:*

José Carlos Brandão disse...

Que poema mais lindo. E dorido. Com a canção azul embalando-nos.
Um beijo.

Sueli Maia (Mai) disse...

O cotidiano e a mesa posta.
Tantas vezes frente ao que exaspera, a poesia é alimento que renova as forças...

beijos Dade

Anônimo disse...

Um simples gesto de rotina esconde sensações que nem sempre são postas junto das conversas à mesa.

Sua poesia tem uma força que traduz o cotidiano que poucos conseguem decifrar.

Beijo.

Gerana Damulakis disse...

Pode dialogar com aquela mesa posta que Bandeira diz aprontar para quando a indesejada das gentes chegar.

Fabio Rocha disse...

Dade, que saudade! E que poema lindo, que dor exposta na mesa posta... Beijos

Carla Jaia disse...

E esse azul que existe mas não canta? melodia profunda e infinita dos silêncio. dói madrugada.

Lindo!

nydia bonetti disse...

Também senti aqui uma imensa melancolia, dade. Que poema lindo. Beijos.