sexta-feira, junho 22, 2007

Canção ao pai

Pai,
hoje pela manhã eu te encontrei bem jovem
olhando para mim da capa de um disco de Tom Waits.
Por que não me disseste
há mais tempo?

Daquelas tuas histórias
das longas noites de angústia que viveste
e me legaste
– soturno, a voz um eco escuro –
por que não me falaste?
Estavas nessa capa
e eras outro.
Estavas nessa capa
e me sorrias
como em notícia de jornal antigo.

Te procurei, meu pai,
depois de morto
para saber o rumo de tua vida
ao peso de tantos anos de tristeza
e os dias que perdeste nesse exílio
em que te aprisionaram, asas cortadas,
vivendo um outro em outro nome dado.

Por que não me contaste, pai,
o que soube tão tarde
– por que só te encontrei
depois que emudeceu
a tua voz?

Um comentário:

Marconi Leal disse...

Adelaide, esse doeu muito. Daquela beleza insustentável. Quanto às sete maravilhas, pode me indicar. Eu já ia listar blogs em função de outros prêmios, aproveito e pego o embalo. Beijos.