sexta-feira, dezembro 31, 2010

Moradas




Há muito não acontecia,
não é a insônia que conheço
é só o apelo da noite que me chama
ao contato frio da esquadria
entre o aconchego do quarto
e a doçura dessa escuridão
entre o terno e o imponderável.

O universo inicia sua música
diante dos muitos olhos lá do alto.
Há muito não precisava desses olhos
sua luz fosca
sobre a ironia dos grilos orquestrados
no jardim.

O céu não é azul.
O dia teve seus gumes
e há esses momentos.
quando nada se move
nada parece ter vida
além do allegro da água
do outro lado da rua.

Hoje choveu e há cupins sob as lâmpadas
onde a escuridão se dissolve
intercalada ao mundo equivocado,
furando a treva sem freio
na expectativa dos instantes
pairando sobre os túmulos
dispersos pelo mar.

São muitas as moradas deste mundo
e variadas as vozes que a manhã
vai acender daqui a pouco.
Enquanto a escuridão se move
maltrapilha
mergulho em tudo que existe
mas não vejo,
ouço canções inaudíveis
na tentativa de entender
por que aqui é dezembro
e tantas coisas pequenas
nos ocupam.

8 comentários:

nydia bonetti disse...

São tantas as vozes, tantas. E tantas moradas. Tanta vida acontece longe e além dos nossos olhos, Dade. A poesia é ponte que nos leva bem próximo de tudo. E além... beijo, querida e que 2011 seja um ano de paz pra todos nós.

Lua Nova disse...

Estou encantada!
"...quando nada se move
nada parece ter vida
além do allegro da água
do outro lado da rua."
Esse é um momento cravado na minha alma... o barulho da água... o nada... a escuridão "maltrapilha" flagrada pela luz difusa da lua tímida...
Vou ficar... rs
Que 2011 te propicie muitas realizações que a façam muito feliz.
Beijokas e meu carinho.
Tin Tin!!

Unknown disse...

é dezembro em todos os versos, vozes. é dezembro no peito incendiário, no alforje do coração, no relicário dos passos -


cantemos pois

beijo

p.s. que circule sem pressa esse comboio 2011

Anônimo disse...

Dade, li e reli teu poema.
É bom demais, digno de uma entrada de novo ano e novas descobertas.

Beijo cheio de amizade e carinho
César

Unknown disse...

Dade!

Essas moradas em noites insones, são o refúgio dos poetas como você, que do nada criam verões que brilharão em todas as primaveras.

Belíssimo!

Beijos

Mirze

Anônimo disse...

Um poema belíssimo para começar o ano de mãos dadas com a beleza e o encantamento.
Beijo e um ano muito feliz
Ivan

Daniela Delias disse...

"...aqui é dezembro.". Tuas palavras disseram-me muito...bjos, Dade, é um poema maravilhoso...

Unknown disse...

Puxa, Dade, mais uma lição de poesia...
Beijo.