Olha amor
tudo espalhado
e os momentos discordantes
papéis todos misturados
palavras fora de hora
olhares insatisfeitos
e limos angustiados.
Olha amor
nossos sentidos
parecem assim truncados
as mãos inúteis
em gestos
de interrogar o vazio.
Olha que estrago
zorra
zona
desperdício.
Olha que dor.
Olha que adeus sangrento
arrastado
arrancado aos pedaços
mutilado
torturado
rebuscando na desconexão
alguma força
feição própria ou configuração
que o resguardasse.
Olha amor
as flores murchas,
pegadas enlameadas
naquele velho chão de deslizar.
Olha a paisagem suja da vidraça
e o som do riacho antigo
se esvaindo
pelo lixo
pelas pedras
pela terra
agoniado de perder sua música.
As plantas secando amor
goteiras entrando em casa
a geladeira parada
a energia cortada
o vento penetra as frestas
de nossas janelas cegas.
Nossa louça desbeiçando
e a poeira se juntando
crescendo e ameaçando
de uma ameaça inocente
vagamente percebida
por olhos que já não veem
senão as próprias imagens
refogadas de tristeza.
Olha amor
tudo rachando
tudo a pique de ruir.
Olha que obra incompleta
abandonada
esquecida.
Olha o sonho carcomido
que esquecemos de sonhar.
Olha o filho que enjeitamos
o amor que não amamos
e os projetos postergados.
Olha as ilusões pisadas
quase tudo quase nada
e essas tardes da colina
rolando de morro abaixo.
Olha o fogo distraído
se esquecendo de queimar
e os espinheiros que crescem
abafam
cobrem
florescem
suas flores desiguais
e esse cheiro de velório
engolindo as damas-da-noite
e esse frio se estendendo pela praia
os tapumes no caminho
uma farpa no pé.
A alegria trancada a sete chaves
numa gaveta qualquer
e nós perdemos as chaves
uma a uma.
8 comentários:
Muito bom,amiga!
Poema extenso e vibrante de verdade. Gostei muito.
Bjss
Lindo, Dade. Um poema de fôlego e, ao mesmo tepo, de tirar o ar.
Um beijo.
Nossa Dade!!!!!
Emocionante. Acho que hoje todos querem me ver chorar.
Que lindo poema, o verdadeiro "FIM DE FESTA".
Aplausos!
Beijos
Mirze
destroços que vagam no vazio,
beijo
Mais fim impossível.
Beijo.
Teu Fim de festa me fez lembrar um tempo amargo de minha vida. Quanto se pode identificar uma e outra pessoa, é difícil saber, mas um poema pode criar pontes, vasos comunicantes. Belo e doloroso poema do fim de um amor.
esse poema pulsa... maravilhoso, dade!
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