quarta-feira, junho 16, 2010

Manhã 4



O dia que espera à tona,
transparente de silêncio,
é um bote armado por insetos
à espera de uma presa, de
alguma voz que reative os mitos
e seus motores estreitos e dentados.
                                                                                                                 dade amorim

***

O poema-amigo de hoje

Nesta comunidade de poetas, em que o bem-querer se constrói pelas palavras, às vezes se encontra alguém que, antes das palavras (ou seria por causa delas?), se tornou amigo de presença.


É o caso da Carol Timm, que também mora no Rio, o que tornou possível a partilha de algumas boas experiências que sempre têm a ver com o que se escreve.


O sono sem sonhos

De repente o silêncio
atacou-lhe a existência
eram borboletas de chumbo
a quietude pesava-lhe tanto
que sentiu-se enterrada
na jaula do tempo

Retícula da folha
que não é mais folha
resíduo da existência
átomo ou energia
o que não é mais
haverá noutro lugar?
será continuidade?


Na praça implodida
pelo homem-bomba
nada sobreviveu, hoje
escondida pelo monolito
nasceu uma flor retorcida
terá o amor encontrado
na sua ausência um lugar?

A noite é contínua
não podemos detê-la
nem fugir da escuridão
mesmo quando voamos
em direção ao sol
manhãs de primavera

O sono sem sonhos
se aproxima de nós
:
desperta assustada
não quer dormir ainda
esta longa noite
sem estrelas

©Carol Timm

12 comentários:

Anônimo disse...

Ontem fui ao blog da Carol e fiquei encantada.

E que poema bonito e intenso o seu, Dade. É sempre um prazer vir aqui, ler-te e ver suas indicações, sua generosidade.

Beijo!

Patrícia Gonçalves disse...

Lindo poema, linda descrição da manhã. Consigo ver o regato, as águas passando, touceiras de margarida bailando a brisa e o silêncio. Me perco em seus versos...

Lindo poema da Carol também, darei um pulo para visitá-la.

beijos

Unknown disse...

uma manhã de sono sem sonhos, pois desperto estou diante da alegoria das palavras e a sua alquimia,


abraço

Nadine Granad disse...

Sugestão da Lara... belíssima!

De sensibilidade ímpar!!!


Abraços carinhosos =)

Carol Timm disse...

Dade,

Eu sei que você sabe que eu fico sorrindo muito de estar aqui com você neste poema.

Aliás, ter conhecido você e nossa amizade cotidiana e poética está tornando a minha poesia muito melhor.

Quem ia imaginar que um fio invisível chamado internet ia unir as nossas poesias pra sempre?!

Adorei habitar a tua casa de poesia também!

E também fico contente de ler os comentários amigos compartilhados!

Por tudo isso
:
obrigada!

Beijos,
Carol

Sônia Brandão disse...

Agradável vir aqui e encontrar a beleza de seu poema e o de sua amiga Carol também.
Já dei uma olhadinha rápida no blog da Carol; voltarei com mais tempo.

bjs

Anônimo disse...

Me dá uma grande alegria ver essas trocas e encontros por aqui, esse clima de beleza e cordialidade que faz tanto bem. E os poemas então nem se fala: são lindíssimos. Beijo, Ivan.

Anônimo disse...

lindo, poema Dade. também gostei muito do poema da Carol. parabéns, as duas.

beijos
Geraldo.

Beta disse...

"Manhã, tão bonita manhã..."

Belíssimos poemas, Dade. Há sempre o espanto, bonito que não se negue a dor, o escuro que pode representar a falta de amor, a morte ardendo seus protestos, mesmo assim, há o sol, há o sol, o calor.

PS: Vou lá conhecer o blog da Carol.

nina rizzi disse...

dade, tuas névoas são poemas pros meus dentes.

beijos.

Carol Timm disse...

Dade,

É tão bom estar AQUI e aqui!

Beijos e boa sexta para nós todos!
Carol

José Carlos Brandão disse...

A luz da aurora, o ar puro da manhã - que bom respirar o sopro de Deus!