O dia pode chegar
quando alguém diz
talvez
ou nunca mais
e não se sabe ao certo
mas supõe-se
que a hipótese das flores
será no entanto
intacta e delicada
e o dia não pede nada
além de algum retrato
no ângulo certo
alguma obra bem-sucedida
ou um amor fervoroso
ora calado.
O dia se resolve
como todos
e ninguém saberá
de onde veio a música
se a chuva foi proposital
e à noite algum luar
enovelado em nuvens
tão passageiro
leve e absurdo
por cima das roseiras
sobre o corpo da terra.
quando alguém diz
talvez
ou nunca mais
e não se sabe ao certo
mas supõe-se
que a hipótese das flores
será no entanto
intacta e delicada
e o dia não pede nada
além de algum retrato
no ângulo certo
alguma obra bem-sucedida
ou um amor fervoroso
ora calado.
O dia se resolve
como todos
e ninguém saberá
de onde veio a música
se a chuva foi proposital
e à noite algum luar
enovelado em nuvens
tão passageiro
leve e absurdo
por cima das roseiras
sobre o corpo da terra.
Este é um poema reeditado, por duas razões:
primeiro porque gosto dele; segundo, porque achei que faz
alguma ressonância com o poema de Nílson Galvão
que trago para o Poema-amigo de hoje.
Nílson Galvão escreve no blog Blag, leitura das mais indicadas.
O peregrino dos dias
A eternidade está morta,
dizia o filósofo com os dentes
cerrados. Quanto a mim,
creio ter assistido a seu enterro
naquele dia fatídico. As pessoas,
inocentes, não suspeitavam de nada
e seguiam cultuando esse grande
e poroso espírito, a eternidade.
Fiquei ali perplexo, enquanto bebia
a morta. A eternidade exalava
distâncias. Meu coração escutava
miríades de estrelas e mistérios
da luz. Cantava junto com as
carpideiras, imitava seu ofício.
E ali a eternidade, em meio às
flores amarelas e brancas
a murcharem. Meu coração escutava
o trespasse, fiquei velho da noite
para o dia, fiquei cego como têm se
tornado cegos os que insistem. Andei
pelo mundo com a lanterna inútil,
clamei por algum alento e nada:
a eternidade estava morta, era
inarredável, estávamos órfãos
em definitivo.
9 comentários:
[na leveza de terra, se aconchega a semente em forma de palavra; diurna e obliqua chuva de palavra...]
um imenso abraço, Amiga Dade
Leonardo B.
Sim, uma ressonância em tanto os dois poemas, e um abalo sísmico em mim.
Beijo, querida.
Ressonância, sim! Adorei teu poema: ninguém saberá se a chuva foi proposital! E fiquei feliz por estar aqui, nos poemas-amigos. Gratíssimo!!!
Q diálogo poético!
A melhor das hipóteses
é a poesia na árvore do dia.
Dade, tenho a impressão de que esse é o melhor poema seu que li. Acho que é o que mais me impressionou.
Um grande abraço.
"e agora chega de leveza, né", vc bem podia ter pensado após os comentários da postagem anterior...
muito bom, dade. eu choro os orfãos também. hoje eu também chovi...
beijos.
Gosto demais da poesia do Nilson, Adelaide. Lindos os dois poemas. E os dias seguem... Sempre haverá flores. Beijo.
Muito bom, Nilson. E para quando?(você entende a pergunta, eu sei),Abraço
Dois grandes poemas que dialogam com a maior competência.
Valeu, Dade e Nilson!
JN
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