quarta-feira, outubro 26, 2011

Cantigas do bom emprego II

3

De meu quarto andar
acompanho notícias de águas
que vêm e vão para longe
pelo útero escuro da rua.
O que cabe em minha agenda
é um esqueleto falso
fabricado às pressas
de um dia sem pauta
cheio das linhas tortas
por onde não terão a coragem
de dizer que Deus escreve (direito?)
o adverso.
Alguma espécie de entendimento
deve ser possível
mas os bueiros engolem o embrião
traçado em um caderno de capa cinza-pérola
– um organismo vivo é outra coisa –
e meus sensores rugem à passagem
de um relâmpago retardatário
luz do rompimento
o limite de onde a treva desenha
o outro lado da rua
e a rua me chama para longe
da cumplicidade e das máquinas.

4

Lá se encontrará um canto secreto
e me acharei madura de esperar
existe sim esse lugar
ou o que seja
pelo tempo que se passa desejando.

9 comentários:

Luiza Maciel Nogueira disse...

ser poesia nesse mundo de máquinas, Dade é quase impossível - mas muitos ou poucos existem aqueles que adoram o impossível!

Beijos

Unknown disse...

AMEI o dia sem pautas e todo o poema, claro.

Sempre existe um canto secreto.

Belíssimo!

Beijos

Mirze

João A. Quadrado disse...

[na palavra, o grande lugar do mundo,

a tinta por fronteira,
por guia, a letra constelação]

um imenso abraço, Amiga Dade

Leonardo B.

Ivan disse...

existe sim esse lugar – longe das máquinas, perto do desejo.

Uma belíssima série, Dade.

Enylton disse...

Me fazem lembrar tanto a nossa empresa, Dade! Rs
Beijo.

Cris de Souza disse...

Canta que aprecio sua voz!

Beijo, querida Dade*

Jorge Pimenta disse...

quanto de nós não é tempo e espera? até porque sabemos que existem, os lugares.
beijo, querida dade!

Jorge Pimenta disse...

a imagem desse "útero escuro da rua" é de um lirismo arrepiante!!!

Unknown disse...

caleidoscópio,


beijo